• anteontem
Organização do Trabalho (Drs. Antônio Aguirre e Nogueira Brandão - 1890)
Organização do Trabalho - Imigração Chinesa
(Artigos dos Srs. Dr. Antônio Aguirre e Engenheiro Matheus Nogueira Brandão)

Ainda que sem a solidariedade da redação, que tão lisonjeiramente nos acolheu, continuaremos procurando demonstrar as nossas asseverações e abater esta vaidade do americano e, principalmente, do brasileiro de querer constituir-se em tutor, quando não passa de tutelado do europeu.

Lançando a vista sobre a vastidão territorial do Brasil, vemos que a absorção é um fenômeno que dispensa demonstração, pois está à vista de todos. O europeu em si encerra tudo quanto poderia fazer progredir esta nação; somos nós os absorvidos e, amansados, jactamo-nos de absorventes!

A imprensa, que deveria ser a primeira na senda da orientação do problema do povoamento do solo, aceitou como fato consumado a repulsão do chinês como elemento de prosperidade.

Imbuídos de um progressismo imitativo e obedecendo à corrente de uma opinião sem critério, aqueles que por muitos anos tiveram a responsabilidade das coisas públicas deste país são os culpados pelo estado atual das coisas, no qual a desesperança, com todos os seus horrores, é o fundo negro do quadro que violentamente tentam apresentar com cores alegres e festivas.

A grande lavoura, contra a qual se levantam os exclusivistas da pequena lavoura, depois da gloriosa Lei de 13 de Maio, jaz abatida e sem meios de percorrer o ciclo de prosperidade a que estava destinada. Aqueles que observam a questão da organização do trabalho no próprio terreno verificam ser impossível a exploração das nossas florestas virgens com o europeu, contra quem conspiram todos os elementos naturais deste vasto país e contra quem também se conspira com o enorme dispêndio de recursos financeiros. Esse dispêndio, em troca, recebe apenas uma pequena quantidade de fósforo de cálcio, quando a ardente estação do verão surpreende este tipo não aclimatado!

Com a atual sistematização do povoamento do nosso território, é inviável o encaminhamento de capitais para a nossa lavoura. Os particulares e, muito menos, as associações lutarão com grandes embaraços, alguns até insuperáveis, e, nos seus cálculos de lucros e perdas, não entrarão incógnitas impossíveis de prever. O resultado, tanto para um quanto para outro, será nulo, e apenas em épocas muito remotas poderemos tirar proveitos que ainda assim não animarão o capital.

Além de todos os elementos naturais, há a circunstância da inconstância do imigrante europeu. Neste Estado, que em comparação a outros pouco tem introduzido de população europeia, verificamos que o pequeno comércio, as novas indústrias e os ofícios remuneradores são atrativos para a população flutuante, em prejuízo dos nativos. Os esforços patrióticos daqueles que até hoje se ocuparam de tão momentoso problema não são correspondidos pelos fatos que os determinaram. Enxergamos claramente que o caminho está errado, mas, como parece vergonhoso que

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