• há 4 dias
Gente que vive do Rio de Ormando de Moraes (A Época - 1947)
GENTE QUE VIVE DO RIO:
PESCADORES, LAVADEIRAS, TIRADORES DE AREIA

É O VELHO ITAPEMIRIM QUE LHES DA O PÃO DE CADA DIA - HERMINIO SILVA, MARCIONILA GOMES, ARGEMIRA REZENDE, ALZIRA E IRACI SOARES E MARIA DA PENHA CHARRA CONVERSAM COM O REPORTER - ANGELIN ESTÁ CONTENTE COM O SEU RIO - ESMERINO DOS SANTOS, HA 15 ANOS DENTRO D'AGUA.

Reportagem de ORMANDO DE MORAES

Você já pensou, leitor cachoeirense, na amizade que nos liga a êsse bonito, a esse vêlho rio Itapemirim? Suas águas cantando baixinho, por entre pedras multiformes, nos alegram a vida durante o dia e, á noite, nos embalam o sono tranquilo. Parece que êsse rio sabe que está passando entre amigos e passa alegre, passa cantando, passa tagarelando. Depois, lá embaixo, quando deixa a cidade, êle fica tranquilo, quieto, manso.

Em tôrno desse belo rio, ás suas margens, tudo vai se transformando, tudo vai evoluindo. Primeiro, naturalmente, eram sómente matas, com os animais desconfiados bebendo a sua água refrescante. Depois vieram os homens. Veio-a civilização. Vieram os homens e fizeram casas, plantaram lavouras. Formaram uma cidade, construiram igrejas, e fábricas, e escolas, e fincaram mais casas no chão. Casas bonitas, grandes, sobrados, cá em baixo; casinhas pequeninas, alegres, olhando o rio lá do alto do morro. As pontes lhe atravessaram o leito.
As gerações foram passando. Tudo vai evoluindo. Só o velho rio continua sempre o mesmo.

Sempre alegre e canta rolante, é uma permanente atração para as crianças que sentem um desejo incontido de brincar em suas águas, um terno enfeitiçador dos namorados que se debruçam nas suas pontes, um perene evocador de velhas reminiscências, um constante inspirador de nossos poetas.

Ás vezes o rio faz de suas traquinagens, tragando em suas águas a vida de um ente querido, de um parente ou de um amigo. Ou então ele cresce, cresce, e como que enraivecido, consciente de sua força indomável, lança suas águas sobre as margens, inundando a cidade, derrubando casas, carregando animais, matando plantações. E' uma loucura passageira que acaba em poucos dias, voltando tudo ao normal.

Todo o cachoeirense tem uma profunda e inexplicável amizade ao velho Itapemirim,, principalmente essa gente que vive do rio, nêle tem o meio de vida, dele tira o pão de cada dia. São as lavadeiras, os pescadores, os tiradores de areia.


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