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Crime Ambiental no Espírito Santo (Rubem Braga - 1967)

DENUNCIEI neste jornal, em fins de maio, um projeto criminoso que implica na destruição das Reservas de Proteção da Fauna e da Flora existentes no Espírito Santo; reservas, de seu gênero, únicas no mundo, com mais de 20 mil espécies botánicas, 700 espécies de aves e 154 espécies de mamiferos. Eu disse, naquela ocasião, não acreditar que o projeto fosse da Companhia Vale do Rio Doce, cujo presidente, o sr. Antônio Dias Leite, homem de cultura, não me parecia capaz de praticar ou apoiar se melhante atentado.
Eu esperava, nn verdade, um des mentido da Vale do Rio Doce: o seu silêncio, que tem mais de duas semanas, está indicando que a denúncia era verdadeira. Hoje, digo mais: pelo que me escreve o naturalista Augusto Ruschi, a Vale do Rio Doce está agindo, no caso, de acordo com a Cia. de Reflorestamento Aracruz S.A., cujo presidente era até há pou co. o atual presidente da Vale do Rio Doce, sr. Dias Leite. Eu já ouvira falar dessa Companhia de Reflores tamento, que pretende mobilizar o dinheiro dos 10% do imposto de renda das pessoas fisicas, e 5% das pessoas juridicas, na meritória empresa de reflorestar as áreas do Espírito Santo, que a cupidez e a incúria do homem transformou em desertos.
Nada mais inteligente. nem necessário. O que é incrivel é que à mar gem desse empreendimento se arme o esquema sinis. tro de destruir as reservas da fanna e da flora que tôdas. juntas, não fazem mais de 15 mil alqueires de um valor econômico e cientifico incalculável e im previsível, para produzir dormentes ou coisa que o valha.
É a tentação do ganho imediato ameaçando um patrimônio que não é apenas do Espirito Santo, é de todo o Brasil e de toda a Humanidade. Afirma-se que para vencer possíveis resistências dos legisladores capixabas, a Vale do Rio Doce entregaria à Assembléia um Clube grã-fino que fez construir em Vitória...
Sem maior protesto do povo de Minas Gerais, o sr. Antunes e sua associada Hanna vão destruir o pico do Itabirito, graças a uma criminosa decisão tomada, ao apagar das luzes de seu governo, pelo marechal Castelo Branco, O mesmo marechal teve uma decisão feliz amparando as reservas de flora e fauna do Espirito Santo. Este decreto, não o outro, é que se pro- tende derrubar.
Se os mineiros não amam sua história e seus monumentos naturais, é lamentivel: no caso capixaba, entretanto, não se trata de reverenciar o passado, mas de preservar, para a Humanidade, riquezas naturais, cuja destruição seria totalmente irreversive! - uma parte da herança do planéta, da vida do planeta, que seria reduzida a cinzas. A desculpa é que mais tarde se plantariam eucaliptos...
Existe um Instituto Brasileiro de Desenvolvimen to Florestal, cujo presidente é o general Silvio Pinto da Luz: não sei que força terá éle ou terá seu Instituto, mas é claro que ele não pode ignorar esse atentado. Se a Vale do Rio Doce, em tão grave assumto guarda silêncio, e porque o projeto existe mesmo: cumpre, assim, n

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