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Formada em Ciências Sociais, Maíra Acayaba começou a fotografar na faculdade, como integrante de um coletivo que registrava São Paulo à noite.
Transcrição
00:00Uma característica inerente da fotografia é o silêncio,
00:26porque é um instante que é capturado em meio à vida em movimento.
00:33E a fotografia estática é contemplativa por si só.
00:47Eu comecei a fotografar arquitetura através de amigos
00:54que estavam nos escritórios de arquitetura em São Paulo.
00:57Então, um deles foi o Piratininga, que foi muito importante para mim.
01:01O Piratininga me passou...
01:03Um dos primeiros trabalhos que eu fiz para eles
01:06foi um apartamento na Paulista, do Fábio Cimino,
01:11que é um galerista.
01:13Então, o apartamento em si era muito interessante
01:16pela arquitetura, pelas obras de arte
01:17e pelo fato de estar na Paulista.
01:19Então, eu tentei, naquele momento, pegar os interiores do apartamento
01:25e a Avenida Paulista ao mesmo tempo, à noite.
01:29Então, no Lusco Fusco, que a gente fala, né?
01:31Naquele momento de transição ali do dia para a noite.
01:34Aqui está o Três Marias, né?
01:37Então, foi numa dessas varandas
01:39que eu fiz uma daquelas primeiras fotos
01:43que foram super divulgadas ali.
01:47Acho que era 2008.
01:49Então, começo da internet e tal.
01:52E aí, eu subi, né?
01:55Fiquei ali bem mais alta que o guarda-corpo ali.
01:58O tripé subiu, né?
02:00Fiquei mais alta.
02:00E aí, eu consegui pegar a Paulista, os carros em movimento
02:04e o apartamento ao mesmo tempo.
02:07Nessa estante aqui, eu tenho algumas publicações, né?
02:21Em diversas revistas brasileiras, de vários países.
02:27A Suma, que era uma revista argentina,
02:30e eu levei minha filha nesse ensaio
02:35que a gente fez no Rio Grande do Norte.
02:40E ela acabou saindo na capa ainda.
02:44Então, eu usei ela de escala.
02:48Eu também saio de escala no projeto.
02:51Às vezes, tenho que me usar nas fotos.
02:56A gente também chamou uns surfistas.
02:58Uma que acabou de sair, que é a Projeto,
03:04com o nosso projeto em São Francisco de Xavier,
03:07que a gente está construindo.
03:08Então, virou capa.
03:11Essa revista acabou de chegar, que é a Plot,
03:15que é uma revista bem legal argentina.
03:19E saiu esse pavilhão das quebradeiras de Babassu,
03:25que eu fotografei no Maranhão.
03:26que é um projeto que eu gostei muito
03:30de ter fotografado.
03:40Eu sou formada em Ciências Sociais.
03:44Ali na PUC, nessa época,
03:46muitos amigos fotografavam.
03:48Então, a gente saía da faculdade à noite e ia fotografar.
03:55E esse virou um coletivo chamado Rolê.
03:59Então, a gente fotografou São Paulo por muitos anos à noite, de madrugada.
04:03Como são fotografias noturnas, você precisa usar o tripé,
04:06porque você está com baixa velocidade.
04:07Então, o tripé acabou virando uma extensão da câmera para mim.
04:13E o tripé é essencial na fotografia de arquitetura também.
04:17Porque a gente precisa de profundidade de campo,
04:20de foco em vários planos.
04:21Então, foi muito legal ter essa vivência,
04:26esse contato com o tripé
04:30e com a fotografia de cidade, né?
04:35De vivenciar a cidade, de ocupar a cidade.
04:39Então, está aí, né?
04:39A Praça do Patriarca vazia.
04:42Aqui debaixo do Minhocão.
04:44Então, tem uma característica bem forte do meu trabalho,
04:47que é essa coisa do ponto de fuga, né?
04:51Da simetria, de você organizar a imagem, né?
04:56Porque você tem imagens mais fortes, né?
05:04Eu acho importante a gente também tirar partido
05:07de várias situações de luz do tempo, né?
05:11Então, já aconteceu de eu ter que fotografar uma casa de praia
05:15num dia chuvoso.
05:18Você não via o horizonte.
05:20Mas tinham as poças, os reflexos.
05:23Você está ali vivendo o espaço,
05:26vivendo aquele tempo, aquele dia,
05:29e você tem que tirar partido dele
05:32e construir um ensaio, né?
05:34A técnica da fotografia de arquitetura
05:48eu acho que é, em princípio,
05:50a técnica da fotografia, né?
05:52Que é a velocidade,
05:56saber usar a velocidade,
05:57a abertura,
05:59o uso do tripé
06:01e uma especificidade
06:04é a lente tilt-shift, né?
06:08Então, com a lente tilt-shift,
06:11eu tenho esse movimento do shift
06:13que eu consigo
06:14pegar o prédio até o fim, né?
06:18E aí você não tem aquelas distorções
06:21que normalmente você teria
06:23se simplesmente girar a câmera, né?
06:26Então, eu acho que essa lente
06:28é extremamente importante
06:29para registrar a arquitetura.
06:32Mas também não é essencial, né?
06:34O mais importante é o olhar,
06:37é saber se posicionar,
06:39saber enquadrar o objeto, né?
06:43O espaço.
06:44A gente está chegando aqui no IMS,
06:55no Instituto Moreira Salles,
06:57e é um instituto de fotografia também, né?
06:59Então, é um lugar que eu frequento bastante.
07:03Vamos fazer uma foto dele aqui,
07:05noturna.
07:06O que me interessa
07:17ou sempre me interessou
07:18na fotografia de arquitetura
07:20é porque ela se encontra
07:21entre o limiar,
07:22entre o registro formal,
07:24técnico, rigoroso
07:26e um registro artístico.
07:30Você tentar criar uma atmosfera,
07:32uma interpretação poética do espaço, né?
07:37Eu acho que o que eu tento fazer
07:38na minha fotografia
07:39é um pouco isso.
07:41Eu acho que ela é bem rigorosa,
07:44as composições são bem formais, né?
07:47Eu sempre tento fazer a foto frontal, né?
07:51Olhando diretamente para o edifício,
07:54objetivamente.
07:55Mas eu tento trabalhar com a luz,
07:59talvez com uma pessoa passando,
08:04observando o horizonte
08:06e tentando criar aí uma atmosfera,
08:11um registro mais poético
08:13e delicado
08:15daquela obra que é rígida.
08:18Então vamos lá.
08:26Legenda Adriana Zanotto