Em cena, e ensaiando uma cena, as atrizes Helena de Jorge Portela e Rosana Stavis conduzem o público por experiências que alternam emoções como angústia e ironia.
Categoria
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CriatividadeTranscrição
00:00Música
00:00Quando eu era pequena, você vinha no meu quarto me dar beijos de boa noite, não vinha?
00:21Pai, durante anos você vinha no meu quarto de noite e de madrugada quando chegava em casa bêbado ou sei lá o que.
00:28Não eu.
00:30Você sim!
00:31Não eu!
00:32Você me queria.
00:35A peça então traz duas atrizes em uma sala de ensaio que são espaços fascinantes de caos e de criação.
00:43Então traz essas duas atrizes tentando entender e dar andamento, uma tentando se preparar para atuar em uma das peças mais difíceis de sua carreira, de sua trajetória,
00:54que trata, traz questões delicadas e difíceis de se lidar, né?
00:59Como os traumas e abusos e violências causados na infância.
01:04Então traz essas duas atrizes, uma mais experiente, ajudando as atrizes mais novas a lidar com essa personagem difícil.
01:11Essa atriz que eu faço nesse meta-teatro, ela tem que fazer uma cena que ela tem que chorar e ela não consegue chorar.
01:20E eu, Helena, eu tenho facilidade para chorar.
01:23Só que eu tenho que passar a peça inteira fazendo cenas explosivas, cenas muito fortes com a Rosana,
01:32controlando o meu choro, porque senão a gente acaba com a peça, assim, né?
01:36Mas agora não sou eu, eu vou ser...
01:44A ex!
01:45Vinha, vinha, vinha!
01:46Ah, tá.
01:48Essa virada de chave, ela tem que acontecer, porque o espetáculo, ele pede isso, ele caminha de um lugar assim,
01:56onde é o lugar confortável para os atores, que é a sala de ensaio, onde a gente tem uma conversa descontraída.
02:02Toda essa conversa é muito divertida, é praticamente quase uma comédia, né?
02:06E quando elas resolvem ir para a cena, que são esses personagens extremamente complexos e angustiantes e dramáticos ao extremo, né?
02:18Você já tem que acessar na hora aquele estado emotivo, né?
02:23E a ideia dessa dramaturgia e da direção do Damasceno é levar o público a experimentar essas emoções,
02:31tanto de rir, como chorar, ou da angústia, ou da ironia.
02:37E a ideia é que a gente não tenha que viver isso, nós, as atrizes, e sem provocar no público isso.
02:43A gente partiu de duas, a gente que eu digo, eu e a equipe, principalmente as atrizes.
02:58A gente partiu de inspirações, de relatos, de histórias reais, e também de inspirações dos textos do Pirandelo, né?
03:07Assim como essa ele parece, que acho que foi uma das principais inspirações.
03:12E o que nos encanta, o que nos fascina, e são, eu acho que esse jogo entre o que é realidade, o que é ficção,
03:21e principalmente nesse momento que a gente está, que ninguém mais consegue distinguir,
03:24ninguém mais consegue saber o que é, o que não é, o que é real, o que é inventado.
03:29Você era muito criança, sim, se realmente aconteceu com seu outro país,
03:34o que você está dizendo, o que agora você está dizendo, o que aconteceu.
03:40Você é um monstro.