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O Frade Estrangeiro (Carlos de Laet - 1951)

Não há quem não tenha ouvido falar na confederação dos Tamoios, fato importantissimo da nossa quadra colonial, e do qual fêz uma epopéia o gênio de Gonçalves de Magalhães, visconde de Araguaia.

Aos franceses que tentavam estabelecer-se nesta nossa baía de Guanabara, coligaram-se os Tamoios. Conciliados pela habilidade do recente invasor, os indígenas constituiam um perigo formidavel para os portugueses.

De uma e de outra parte faziam-se temerosos aprestos.
O sangue humano ia correr a jorros. Ora, foi nestas conjunturas que o frade estrangeiro José de Anchieta se ofereceu para desarmar com a palavra o índio ofendido e vingativo.

Southey, o historiador insuspeito, porque era protestante, opina que "de mais perigosa em- baixada nunca ninguém se encarregara."

Anchieta parte em um navio do genovês Francisco Adorno. Veleja para Ubatuba que naquele tempo se dizia Iperoig. Quando o barco se aproximava da costa, estava ela coalhada de gente feroz embravecida...

Parecia um meeting! Tomam os índios canôas e dispõem-se a agre- dir o navio de Anchieta.
O frade estrangeiro aparta-se dos seus e apresenta-se sòsinho.
Como arma única eleva bem alto o Crucifixo, a imagem do sacrifício resignado, ensinando aos homens tôdas as resignações no sacrifício.
Diante dêsse homem, tão sereno em sua fraqueza corpórea, hesitam as cóleras mais impetuosas.

Consente-se em ouví-lo, o que já era meia vitória para a causa da boa razão. Ou- vem-no. Celebra-se o armistício. Confiado na lealdade daqueles filhos da natureza, o padre deixa-se levar por êles, e entre êles permanece como refém. Tamanha coragem subjuga, conquis- ta a admiração dos bravos; tamanha doçura angaría a afeição dos mais desconfiados.

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