As memórias “Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu” (por Manuel Luís Lomba, Terras de Faria, Lda., 2012) são uma peça singularíssima na literatura da guerra colonial, como foi lembrado no texto anterior. Toda a recordação da vida operacional da CCAV 703 aparece entremeada pelo enquadramento histórico e político, é um longo olhar do combatente como se pretendesse fazer o arco entre a chegada de Nuno Tristão até à independência da Guiné-Bissau, quase mesmo ao presente. Manuel Lomba, vê-se à légua, fez leituras e nos seus regressos à Guiné-Bissau fez muitas perguntas para encontrar uma elucidação dos acontecimentos. Quem pretende tocar em muitos assuntos, inevitavelmente corre riscos de ser contraditado. Não para atiçar a curiosidade do leitor que referi que há aqui pasto para controvérsia, o importante é ler tudo do princípio ao fim e não ficar condicionado pelas notas da recensão.
Pois estamos dentro da mata de Cufar Nalu, o furriel Lomba e os seus homens estão desarticulados, seguem sozinhos para um acampamento, entre explosões e gritos de mulheres e crianças e animais domésticos resolveram incendiar algumas moranças. O regresso será acidentado, muitos daqueles homens levam as tripas revolvidas, há para ali muita soltura de ventre, a noite caiu, aconchegaram-se sob a mortalha da noite tropical. Ao amanhecer, deu-se o agradável reencontro com a Companhia. As instâncias do comando mostraram-se furibundas, ameaçou-se com punição até que se descobriu que o rádio estava mesmo avariado. Final feliz para um episódio brilhantemente contado. Os sargentos do BCAV 705 vivam aboletados extramuros do forte da Amura, no rés-do-chão do que fora o consulado do Senegal, temos aqui matéria para regressar a Bissau e às comemorações do Natal de 1964. Afinal as três tentativas de assalto à mata de Cufar Nalu tinham redondamente falhado. A prosa agora divaga para as sabotagens a partir de 1962, no Sul da Guiné, é preciso entender como o PAIGC pôs toda a região em polvorosa. E em 16 de Janeiro de 1965 a CCAV 703 vai regressar à mata/santuário. Chegam a Cufar que ele assim descreve: “Um aglomerado fantasmagórico de casas de arquitetura colonial, de gente com patacão, hora todas em ruínas, consumidas por explosões e incêndios. Algumas buganvílias subsistiram, a crescer desordenadas, sob o que restava das balaustradas das suas longas varandas. O pomar de mangueiras, laranjeiras e toranjeiras também subsistira à intempérie bélica, cravejadas de estilhaços de bombas. No discreto canto das ruínas interiores da fábrica recolhemos publicações de Amílcar Cabral, umas versando as culturas do arroz e da mancarra na Guiné, outras de subversão e de doutrinação da sua guerra de libertação, emblemas e flâmulas do PAIGC e os livros, muito manuseados, Centro e Cinquenta Perguntas a um Guerrilheiro”.
Ergue-se a primeira vedação de arame farpado, montam-se emboscadas nas redondezas, algures nos trilhos entre a mata de Cufar Nalu e Boche Mende, aí os guerrilheiros têm plena circulação, por enquanto. Uma grande lala, com a extensão de talvez 2 km, entrepunha-se entre as ruínas da fábrica e a mata de Cufar Nalu. A guerrilha parece demorar a reagir à ocupação de Cufar. O autor enquadra os acontecimentos: “A operação Campo e a nomadização em Cufar da CCAV 703 tinha como missão criar a base de apoio às operações Alicate 1, 2 e 3 à até então inexpugnável mata de Cufar Nalu. O comandante-chefe investiu na sua complexidade o seu potencial disponível: a CCAV 703; todos os meios de ataque aéreo da base de Bissalanca; as CCAÇ 617 e 619, de Catió; a companhia de milícias de Catió, comandada por João Bacar Djaló; e o remanescente do Grupo de Comandos “Os Fantasmas”; e o eficiente apoio logístico e de patrulhamento fluvial da Armada”. E pelo que adiante ele dirá, a esquadra do pelotão de morteiros 912 veio de Jabadá para ficar adida a toda a força militar sediada em Cufar. Temos a descrição da construção dos abrigos e dos sucessivos patrulhamentos, um combate épico começa a travar-se. Chegou a hora das flagelações, as nossas tropas não se atemorizam, respondem com batidas e patrulhamentos ofensivos. Logo em 3 de Fevereiro, no âmbito da operação Alicate 2, "Os Fantasmas", reforçadas pela CCAÇ 617, voltaram a montar uma emboscada na acessibilidade à mata de Cufar Nalu, ter-se-á o mesmo procedimento na operação Alicate 3. Da mata, as demonstrações de força caem no interior de Cufar, os guerrilheiros estão dotados do canhão sem recuo 122, felizmente que os seus disparos não têm precisão, não destroem mais em Cufar do que já estava destruído. A descrição das flagelações é sempre viva, faz o leitor sentir a reação das nossas tropas numa grande angular. Iremos gostar de João Bacar Djaló e do capelão, este muito ativo, adaptou as ruínas da fábrica de descasco de arroz a capela improvisada, a imagem publicada no livro é elucidativa, a fé derrama-se em qualquer paradeiro por mais inopinado que possa parecer.
A 18 de Março, chegou ao cais do rio Meterunga.
Pois estamos dentro da mata de Cufar Nalu, o furriel Lomba e os seus homens estão desarticulados, seguem sozinhos para um acampamento, entre explosões e gritos de mulheres e crianças e animais domésticos resolveram incendiar algumas moranças. O regresso será acidentado, muitos daqueles homens levam as tripas revolvidas, há para ali muita soltura de ventre, a noite caiu, aconchegaram-se sob a mortalha da noite tropical. Ao amanhecer, deu-se o agradável reencontro com a Companhia. As instâncias do comando mostraram-se furibundas, ameaçou-se com punição até que se descobriu que o rádio estava mesmo avariado. Final feliz para um episódio brilhantemente contado. Os sargentos do BCAV 705 vivam aboletados extramuros do forte da Amura, no rés-do-chão do que fora o consulado do Senegal, temos aqui matéria para regressar a Bissau e às comemorações do Natal de 1964. Afinal as três tentativas de assalto à mata de Cufar Nalu tinham redondamente falhado. A prosa agora divaga para as sabotagens a partir de 1962, no Sul da Guiné, é preciso entender como o PAIGC pôs toda a região em polvorosa. E em 16 de Janeiro de 1965 a CCAV 703 vai regressar à mata/santuário. Chegam a Cufar que ele assim descreve: “Um aglomerado fantasmagórico de casas de arquitetura colonial, de gente com patacão, hora todas em ruínas, consumidas por explosões e incêndios. Algumas buganvílias subsistiram, a crescer desordenadas, sob o que restava das balaustradas das suas longas varandas. O pomar de mangueiras, laranjeiras e toranjeiras também subsistira à intempérie bélica, cravejadas de estilhaços de bombas. No discreto canto das ruínas interiores da fábrica recolhemos publicações de Amílcar Cabral, umas versando as culturas do arroz e da mancarra na Guiné, outras de subversão e de doutrinação da sua guerra de libertação, emblemas e flâmulas do PAIGC e os livros, muito manuseados, Centro e Cinquenta Perguntas a um Guerrilheiro”.
Ergue-se a primeira vedação de arame farpado, montam-se emboscadas nas redondezas, algures nos trilhos entre a mata de Cufar Nalu e Boche Mende, aí os guerrilheiros têm plena circulação, por enquanto. Uma grande lala, com a extensão de talvez 2 km, entrepunha-se entre as ruínas da fábrica e a mata de Cufar Nalu. A guerrilha parece demorar a reagir à ocupação de Cufar. O autor enquadra os acontecimentos: “A operação Campo e a nomadização em Cufar da CCAV 703 tinha como missão criar a base de apoio às operações Alicate 1, 2 e 3 à até então inexpugnável mata de Cufar Nalu. O comandante-chefe investiu na sua complexidade o seu potencial disponível: a CCAV 703; todos os meios de ataque aéreo da base de Bissalanca; as CCAÇ 617 e 619, de Catió; a companhia de milícias de Catió, comandada por João Bacar Djaló; e o remanescente do Grupo de Comandos “Os Fantasmas”; e o eficiente apoio logístico e de patrulhamento fluvial da Armada”. E pelo que adiante ele dirá, a esquadra do pelotão de morteiros 912 veio de Jabadá para ficar adida a toda a força militar sediada em Cufar. Temos a descrição da construção dos abrigos e dos sucessivos patrulhamentos, um combate épico começa a travar-se. Chegou a hora das flagelações, as nossas tropas não se atemorizam, respondem com batidas e patrulhamentos ofensivos. Logo em 3 de Fevereiro, no âmbito da operação Alicate 2, "Os Fantasmas", reforçadas pela CCAÇ 617, voltaram a montar uma emboscada na acessibilidade à mata de Cufar Nalu, ter-se-á o mesmo procedimento na operação Alicate 3. Da mata, as demonstrações de força caem no interior de Cufar, os guerrilheiros estão dotados do canhão sem recuo 122, felizmente que os seus disparos não têm precisão, não destroem mais em Cufar do que já estava destruído. A descrição das flagelações é sempre viva, faz o leitor sentir a reação das nossas tropas numa grande angular. Iremos gostar de João Bacar Djaló e do capelão, este muito ativo, adaptou as ruínas da fábrica de descasco de arroz a capela improvisada, a imagem publicada no livro é elucidativa, a fé derrama-se em qualquer paradeiro por mais inopinado que possa parecer.
A 18 de Março, chegou ao cais do rio Meterunga.
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