• hace 3 meses
Transcripción
00:00o coronel sebastião não esperávamos a sua visita como está o gabriel muito mal
00:10dona joconda por tudo que lhe é mais sagrado gabriel é meu filho ou não
00:16é verdade gabriel é seu irmão é meu irmão não vou lhe dizer o que penso a
00:30seu respeito depois de que testemunhou a favor do assassino do meu marido porque
00:34não paga a pena não esqueçam que eu sou um profissional pobre gabriel e agora
00:40como é que ele está exausto prostrado não tem nem mais forças pra chorar vamos
00:48lá ver minha mãe eu quero acarinhar meu irmão gabriel não merecia tanto
00:53sofrimento assim
00:56foi no primeiro instante eu vi por trás do leque alguém com os olhos de paixão
01:19divina e o brilho que assassina também
01:28depois foi sonho e pressenti asas querendo me levar longe aonde dedos de
01:44brisa poderiam me alucinar a luz de outro instante nos deixou distantes
01:57como figurantes que não vão mais voltar mas quem foi amante sabe que um
02:06infante escreve as cordas pra sonhar e como no teatro a personagem confessar somos
02:33ele dormiu dormiu e a febre voltou eu não quero assustá-las mas o local onde ele foi
02:42atingido pela bala não está com aspecto nada bom
02:44minha irmã pode ser que se apaixonou pelo gabriel sem saber que ele era nosso meio
02:57irmão meu coração custa acreditar que isso possa ser verdade então não faz
03:05todo o sentido elena papai quase se casou com a dona joconda descasar com a
03:10mamãe sim mas isso foi antes da condessa nascer e o gabriel alguns anos mais
03:15novo que a irmã então não percebe do mesmo modo que papai traiu a mamãe com
03:22a escrava josefa eu sei a mãe da rosa também traiu com a dona joconda eu só
03:31vou acreditar nessa história quando a própria dona joconda vier me confirmar
03:34tudo então duvida da palavra de nosso pai um homem capaz de trair sua própria
03:41esposa é muito capaz de mentir pra sua filha mas você ainda vai sofrer muito
03:46tem que entender que todo esse amor que sente pelo gabriel não é o amor de duas
03:52almas que devem se esposar eu preciso ver o gabriel preciso falar com ele
03:57chora chora irmão ou não ao menos gabriel te amo
04:09eu quero ver gabriel saber como ele está
04:21pare com essa cantilena não posso invadir a casa da condessa levando vós
04:27me ser pela mão gabriel está muito doente se não ver gabriel papai eu vou
04:31definhar eu vou morrer de fome de sede e de amor mas
04:36quanto à tolice ele é seu irmão que seja mas eu preciso vê-lo não posso
04:41sem o consentimento da condessa e de dona joconda não posso fazer isso seria
04:45uma desfeita licença meu coronel sim joão o que foi a condessa mandou um
04:50escravinho trazer esse direito o senhor
04:54então papai a condessa está informando que o gabriel piorou e pede para que eu
05:12leve vós me ser até lá para visitá-lo antes que seja tarde
05:18como vai ele aflita por notícias de gabriel já não sei o que fazer com esta
05:26menina como não dorme só sabe chorar chorar meu irmão também está sim está
05:32um trapo precisamos encerrar tudo isso tomás é não há mais como levar essa
05:39história adiante somos irmãos dona joconda sim sim é verdade
05:48minha mãe não contou antes por vergonha mas gabriel é filho do seu pai
05:54vós me ser são irmãos não não pode ser verdade é mentira
05:59a dona joconda e o senhor amaram toda essa trama só pra me separar de gabriel
06:06jamais porque faríamos isso gabriel não pode movimentar as pernas como
06:11poderia fugir com vós me ser o senhor não sabia que era pai de gabriel como eu
06:16nunca deixei que ele soubesse só suspeitei recentemente a invenção é
06:22mentira respeite dona joconda foi foi uma fraqueza minha no momento em que
06:31estava muito furiosa com o meu marido porque eu também tinha sido traída
06:36aconteceu ele nas datas conferem é cruel mas é o destino de vocês não podem se
06:48amar são irmãos
06:52o senhor é um homem religioso temente a deus não seria capaz de jurar em falso
06:58sobre um livro sagrado está bem se não há outro meio de vós me ser acreditar
07:07na palavra do próprio pai não não não não não não não não não não não não
07:18juro juro dizer a verdade cometi adultério pq e desse pecado nasceu
07:27gabriel eu peço perdão a deus ele é seu irmão
07:34Cometi adulterio. Pequei. E desse pecado nasceu Gabriel.
07:41Peço perdão a Deus. Ele é seu irmão, Helena.
07:48É minha última esperança.
07:53Pobrezinha.
07:55Eu juro...
07:57Eu juro que acreditei do fundo do meu coração que isso podia ser mentira.
08:03Mas não.
08:05Agora vejo que é verdade.
08:08Gabriel é mesmo meu irmão.
08:11Ai meu Deus.
08:13O que eu vou fazer agora?
08:16Amá-lo.
08:18Como há um irmão, Helena.
08:22Meu amor por ele não era assim.
08:26Era amor com desejo.
08:29Perdição.
08:31Ai meu Deus.
08:36Ai meu Deus.
08:38Que destino terrível.
08:41Mas olha.
08:43Tudo isso há de passar.
08:45Deus em toda a sua misericórdia...
08:48Há de permitir um novo amor para vós me serem.
08:52Não.
08:54Eu não quero um novo amor.
08:58Eu quero ver Gabriel.
09:00Vá.
09:01Vá, minha filha, vá.
09:03Vem, Helena.
09:12Se quiser ir ver seu filho...
09:15Vá também, Sebastião.
09:17Não, Joconda.
09:19Virei visitá-lo em outra ocasião.
09:21Melhor que fiquem a sós agora.
09:25Esse é nosso primo Diogo.
09:27Ele é médico.
09:28Foi ele que salvou a vida de Gabriel.
09:30Essa é a Srta. Helena.
09:32A Srta. Helena faz just a todos os elogios...
09:35que meu primo fez sobre sua beleza.
09:37E ainda supera.
09:40Obrigada por cuidar de Gabriel.
09:43É verdade que ele não vai poder mais andar?
09:47Só por milagre.
09:52Milagres acontecem, meu irmão.
09:56Helena.
10:03Helena.
10:05Meu amor.
10:07Que saudade.
10:10Não faça esforço, querido.
10:13Está muito fraco, precisa repousar.
10:16Não.
10:18Eu só quero olhar para você.
10:20Meu anjo.
10:22Amor da minha vida.
10:26Não.
10:28Está tudo perdido, Gabriel.
10:31Nosso amor é proibido.
10:34Somos irmãos.
10:36Não somos.
10:39Eles sempre foram contra o nosso amor.
10:42Agora inventaram essa história...
10:45para nos enganar.
10:47Nos separar.
10:49Eu também pensava assim.
10:51Mas agora eu sei que é verdade.
10:53Verdade.
10:55É o que sentimos.
10:57Eu vou ficar bom das pernas.
10:59E tudo vai voltar a ser como era antes.
11:02Nós vamos fugir.
11:04Vamos nos casar.
11:06Não.
11:08Não me ama mais.
11:11É isso?
11:14Eles conseguiram matar o seu amor por mim?
11:17Eu vou te amar para sempre.
11:20Mas temos que nos conformar.
11:22Esse amor não pode desistir.
11:25Somos irmãos.
11:28Não.
11:30Não.
11:32Não aceito isso.
11:34É melhor a senhorita deixá-lo descansar um pouco agora.
11:37Não.
11:39Não.
11:41Volto logo, querido.
11:43Não, Helena.
11:45Helena.
11:47Helena.
11:49Calma, Gabriel.
11:50Calma.
11:52Calma, meu irmão.
11:54Diz que é tudo mentira, Tomásia.
11:57Eu não posso.
11:59Não posso, Gabriel.
12:01É verdade.
12:04O coronel confirmou a história da nossa mãe...
12:06palavra por palavra.
12:08E depois eles não iam mentir...
12:10numa história assim, Gabriel.
12:13Ah, meu irmão.
12:15Eu daria a minha vida...
12:17em troca da sua felicidade.
12:20Sim.
12:25A senhorita precisa ser forte.
12:27O Gabriel vai precisar da senhorita...
12:29para superar tudo isso.
12:31Como?
12:33Como vou fazer ele aceitar isso?
12:35Se eu mesma não aceito?
12:37É preciso.
12:39Não há como resistir.
12:41Tenho certeza que a senhorita...
12:43irá encontrar um modo de superar.
12:45Por amor ao Gabriel...
12:47a senhorita precisa ser forte.
12:49Sozinha ele não tem como enfrentar...
12:51tanto sofrimento.
12:53Eu lhe suplico.
12:57Muito obrigado pelo refresco, senhora Joconda.
12:59Eu mesma fiz...
13:01com as frutas do nosso pomar.
13:03Helena.
13:05Papai.
13:07Eu quero morrer.
13:13O mais jovem doutor de campos.
13:15Doutor Diogo Alves.
13:17Este é o coronel Sebastião Cunha.
13:21Muito prazer, senhor coronel.
13:23Satisfação, doutor.
13:25Temos que ir agora, minha filha.
13:27Adeus, senhora Joconda.
13:29Doutor.
13:45O que me disse, senhor Miguel?
13:47No tronco?
13:49Ameaçada de ser chicoteada?
13:51Pobre Isaura.
13:53Nenhuma escrava merece...
13:55um tratamento assim.
13:57Conheço muita gente naquela fazenda.
13:59As notícias acabam chegando.
14:01Minha filha Isaura está comendo o pão...
14:03que o diabo amassou sozinha...
14:05nas mãos daquele canalha.
14:07E diante disso o senhor quer invadir a fazenda do Leôncio Almeida...
14:09para tirar Isaura de lá?
14:11Não me resta outra saída.
14:13Eu sou livre daquele maldito.
14:15E para tal feito...
14:17eu conto com a ajuda de alguns poucos e sinceros amigos.
14:19Quero ajudar.
14:21Tomásia.
14:23Por favor, Tomásia.
14:25Não recomece com suas ideias de vingança.
14:27Agora mais do que nunca, minha mãe.
14:29A bala que Gabriel levou...
14:31foi dada pelo capitão do mato...
14:33que estava sob as ordens de Leôncio.
14:35Já não bastava...
14:37ter me empurrado da escada.
14:39Já não bastava...
14:41ter me feito perder aquela criança.
14:43Já não bastava ter matado meu marido.
14:45Agora deixa meu irmão no estado que está.
14:47Preciso de armas e homens, senhora.
14:51Eu consigo.
14:53Tomásia, eu não permito.
14:57Eu sinto muito pela escravinha.
14:59Mas isso é problema para o pai dela.
15:01Não para você.
15:03Eu peço desculpas, dona Gioconda.
15:05Sei que vivem uma grande aflição...
15:07por causa do ferimento do menino Gabriel.
15:09Ouça, minha filha.
15:11Ouça sua mãe.
15:13Se algum dos nossos homens cair...
15:15for preso, ferido nesse ataque...
15:17ou se delatar, vosmecer...
15:19pode até ser presa, Tomásia.
15:23Quer que eu fique sozinha com o Gabriel na cama...
15:25e vosmecer na cadeia?
15:29Bom, seu Miguel.
15:31Eu vou lhe arranjar as armas.
15:33Mas para atender a minha mãe...
15:35não posso lhe mandar nenhum homem aqui da fazenda.
15:37Mesmo porque não confio neles...
15:39para pedir algo assim.
15:41Algo assim fora da lei.
15:43Uma coisa é contratar homens...
15:45para defender o que é seu.
15:47Outra coisa muito diferente...
15:49é contratar para atacar o que é dos outros.
15:53O Bernardo era o único que eu confiava.
15:55Mas ele foi para o garimpo.
15:57Mesmo assim, eu agradeço.
15:59Condessa Tomásia.
16:01Os homens eu consigo.
16:03As armas é que estavam faltando.
16:05Esta noite eu posso até morrer.
16:07Mas eu vou tirar a minha filha Isaura...
16:09das mãos do Leôncio.
16:13Estou muito infeliz...
16:15quando lembro de Gabriel.
16:17Quem diria?
16:19Gabriel, nosso meio-irmão.
16:21Ai, Malvino.
16:25Dói.
16:27Dói aqui dentro.
16:29Meu coração está morrendo.
16:31Dói aqui dentro.
16:35Meu coração está aos frangalhos.
16:37Parece que quebrou uma parte de mim.
16:39Minha irmã.
16:41Minha irmã.
16:43Vós me cede a encontrar um outro amor.
16:45Alguém mais bonito...
16:47e de melhor caráter que o Gabriel.
16:49Mais bonito pode ser.
16:53Mas de melhor caráter...
16:55é impossível.
16:57Esse é meu primo.
16:59Doutor Diogo.
17:01É...
17:03médico formado na corte.
17:05Seu Miguel.
17:07Meu melhor amigo.
17:09Por favor, Gabriel.
17:11Não fale muito.
17:13Como vai, senhor Miguel?
17:15Como Deus quer.
17:17Muito prazer, doutor.
17:19Meu amigo e eu estive aqui...
17:21em ocasião do seu acidente.
17:23E a sua mãe pediu que eu voltasse uma outra hora.
17:25Obrigado pela atenção.
17:29E os negócios?
17:31Os negócios?
17:33Passei a venda, meu amigo.
17:35Por quê?
17:37Vou embora com a minha filha.
17:39Quando?
17:43Pode falar...
17:45de alguém de confiança?
17:47Reuni homens e armas.
17:49Vamos invadir a fazenda do Leôncio.
17:51Esta noite.
17:53A minha filha está sofrendo muito...
17:55nas mãos daquele cão imundo.
17:59Eu...
18:01eu queria estar ao seu lado.
18:03Você vai estar em pensamento, meu amigo.
18:05Reze por mim.
18:11Eu não sei...
18:13porque eu tenho que sofrer tanto.
18:15Nunca fiz mal a ninguém.
18:19Sempre procurei ser bom.
18:23Temente a Deus.
18:25A vida é sempre assim, amigo Gabriel.
18:27Cheia de provações.
18:29Então, amigo, não sabe o quanto que já sofri...
18:31e continuo sofrendo.
18:33É preciso ter paciência de Jó...
18:35para não deixar-se abater.
18:37E, sobretudo, não perder as esperanças.
18:41Que esperança eu posso ter?
18:43Deus testa os melhores, meu amigo.
18:45Coloca em provação.
18:49A dor fortalece o espírito.
18:51É a superação...
18:53dos nossos próprios limites, Gabriel.
18:57O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo...
18:59sofreu na cruz.
19:01Eu...
19:03eu estou...
19:05Gabriel.
19:09Foi só um desmaio.
19:11O estado dele piorou muito.
19:13A febre aumentou.
19:15Desde que a Senhorita Helena esteve aqui...
19:17só fez piorar.
19:21E como foi esse encontro, doutor?
19:23Doloroso.
19:25A Senhorita Helena é encantadora.
19:27Tentou animá-lo, mas...
19:29é muito difícil.
19:31Ainda mais agora que ele descobriu...
19:33que é bem irmão dela.
19:35Eu soube.
19:37Filho do Coronel...
19:39Sebastião.
19:41Quem diria?
19:47Eu peguei isso aqui também...
19:49Meu Deus do céu! São as joias da minha madrinha.
19:51Seu Belchior. Muito obrigada.
19:53Deus o abençoe...
19:55por salvar a minha vida e a vida de meu pai.
19:57Valeu pelo beijo...
19:59da flor mais linda...
20:01do meu jardim.
20:03Deus me abode.
20:05Agora sobe.
20:07Rápido. Vai rapidinho.
20:09Livre, meu pai.
20:11Livre.
20:13Voltem para a cidade.
20:15Meu pai.
20:17Livres!
20:19Já! Já!
20:21Viva! Viva!
20:25Viva a liberdade!
20:41Parece que entrou em coma.
20:43O que é isso?
20:45É um estado muito parecido com o do sono, minha tia.
20:47Há quem acredite que é uma defesa do organismo...
20:49contra a doença.
20:51E ele vai demorar para despertar?
20:53Pode demorar dias ou mesmo meses.
20:57Gabriel, meu filho.
20:59Tenha fé, minha mãe.
21:03Uma coisa eu lhe garanto.
21:05Leoncio há de pagar por isso.
21:07Como?
21:09Eu nunca ouvi essa palavra antes.
21:11É como os médicos chamam...
21:13desde o século XVII...
21:15quem fica nesse estado, minha tia.
21:17Parece com sono...
21:19mas também parece...
21:21um estado mórbido.
21:23Não fale assim, Tomásia.
21:27Gabriel respira.
21:29Veja.
21:31Sim, mas ele não acorda.
21:33Mas pode ser.
21:35E pode passar a vida assim?
21:39Há casos de pessoas que estão há anos...
21:41neste torpor do coma.
21:51A febre parece que baixou.
21:59A fisionomia deu certo.
22:01A fisionomia dele está tranquila.
22:03Pelo menos assim...
22:05parece que ele não sofre.
22:07Mas eu quero o meu filho de volta.
22:09Mesmo que ele não possa andar mais.
22:11Eu quero.
22:17Vamos rezar, minha mãe.
22:21Se Deus quiser...
22:23esta noite...
22:25Leoncio começa.
22:27É.
22:29Esta noite...
22:31Leoncio começa a pagar por todos os seus crimes.
22:39São incompetentes!
22:41Um bando de derrotados!
22:43Olha, eu sinto muito, senhor Leoncio.
22:45Mas nós não esperávamos que tanta gente fosse invadir a fazenda.
22:47E justamente para dar fuga a Isaura, senhorzinho.
22:49A culpa é de vocês!
22:51A gente fez o que pôde.
22:53Foi pouco! Muito pouco!
22:55E o resultado? A Isaura fugiu!
22:57Eles planejaram melhor o ataque do que nós planejamos a defesa.
22:59Mas eles vieram por todos os lados, senhorzinho.
23:01E é para isso que eu pago bem a vocês, é?
23:03Eles tinham muita gente.
23:05Muita arma, senhor Leoncio.
23:07Eu avisei que eles iam atacar.
23:09Adiantou alguma coisa?
23:11Nada!
23:13Com licença, senhor Leoncio.
23:15Então, sargento, conseguiu prender o negro fujão, o André?
23:17Não, senhor. Eles sumiram no meio da lavoura.
23:19Ah, senhor.
23:21Os guardas continuaram procurando, mas até agora nada.
23:23Nesse ponto o André leva vantagem, senhorzinho.
23:25Ele conhece muito bem o terreno.
23:27Foi o senhor que quis
23:29que a gente fosse atrás da Isaura junto com o senhor.
23:31Inferno de vida!
23:33O que mais falta me acontecer?
23:35A Isaura fugiu?
23:37O negro André escapou de novo?
23:39Pelo menos o senhor Henrique
23:41foi preso.
23:43Esse desgraçado vai apodrecer lá na prisão?
23:45Foi pego em flagrante.
23:47Juntem todos os homens que conseguirem.
23:49Eu pago preço de ouro.
23:51Vamos vasculhar todas as estradas.
23:53Isaura não pode estar longe.
23:55Eu quero um exército atrás dela.
23:57Reunam todos os homens
23:59que conseguirem e tragam a escrava
24:01de volta.
24:03Condessa,
24:05esta é a minha filha, a Isaura.
24:07Já ouvi muito
24:09falar de vós, missé. Muito mesmo.
24:11Mas é muito mais bonita
24:13do que todos os elogios que me fizeram.
24:15Obrigada
24:17pela gentileza, senhora condessa.
24:19Mas engraçado, que estranho.
24:21Parece que já conheço.
24:25Eu estava no sarau
24:27de noivado do senhor Leôncio.
24:29Infelizmente, senhora condessa,
24:31eu vi quando o senhor Leôncio
24:33a empurrou do alto da escada.
24:35Aquele maldito.
24:37Mas ele há de pagar caro
24:39por tudo isso.
24:41Ele há de pagar caro pela morte do meu marido.
24:43E agora pelo tiro que levou
24:45meu irmão Gabriel.
24:47No dia do sarau do noivado,
24:49ele quase me matou.
24:51E ainda me fez perder a criança que eu levava
24:53no ventre. Meu filho.
24:57Vossa senhoria,
24:59desculpe a sinceridade,
25:01mas a senhora condessa merecia
25:03uma melhor sorte do que ter um filho daquele canalha.
25:05É verdade, senhor Miguel.
25:07Com todo o respeito,
25:09condessa, me perdoe,
25:11mas a vida tem dois lados.
25:13E o melhor é tentar
25:15ver as coisas pelo lado bom.
25:17O senhor tem razão.
25:19Ah, mas se eu soubesse
25:21que Isaura tinha visto ele me empurrar
25:23da escada.
25:25Tanto que eu precisava de uma testemunha
25:27idônea para contar isso
25:29ao juiz.
25:31O meu maior sonho é ver o canalha
25:33atrás das grades.
25:35Mas o que se há
25:37de fazer, não é, Isaura?
25:39Não posso lhe pedir isso agora.
25:41Finalmente conseguiu a sua
25:43liberdade.
25:45Isso é o que mais importa.
25:47Vossa messia está livre.
25:49Graças ao meu pai,
25:51que tanto lutou por isso.
25:53Ai, desculpe.
25:55Está ferido, senhor Miguel?
25:57É, o sangue já estancou,
25:59condessa. Foi um tiro de raspão,
26:01mas o importante é que nós
26:03conseguimos fugir.
26:05Meu destino era ir direto
26:07para o Quilombo e de lá viajar
26:09para as bandas de São Paulo ou Minas,
26:11mas nós não contávamos
26:13com esse ferimento e agora estamos
26:15precisando de abrigo.
26:17Mas é claro.
26:19Podem ficar aqui o tempo que precisar.
26:21Ai, meu filho.
26:23Meu filho Gabriel
26:25em coma.
26:27Mas o que é isso?
26:29O que é isso?
26:31Senhor Miguel está ferido.
26:33Ele veio com a filha pedir abrigo.
26:35Era o que me faltava agora.
26:37Dar abrigo a uma escrava fugida.
26:39Você enlouqueceu, Tomásia.
26:41Perdeu o juízo de vez.
26:43Esquece que é
26:45uma condessa e que não pode
26:47e que não deve se envolver em situações como essa.
26:49Ah, senhora, me desculpe.
26:51Eu acho que nós não devíamos...
26:53Minha mãe. Eu vou dar abrigo
26:55ao senhor Miguel e à sua filha
26:57pelo tempo que precisarem.
26:59Você vai acabar sendo presa,
27:01Tomásia. Isso sim.
27:05Mas não bastam
27:07nossos problemas.
27:09O que mais falta nos acontecer
27:11é a sua prisão.
27:13Eu acho melhor nós irmos embora, minha filha.
27:15Vazmice, fica. E sua filha também.
27:17Minha mãe está muito nervosa.
27:19Nós duas estamos muito
27:21preocupadas.
27:23Gabriel está muito doente.
27:25Diogo, meu primo que é médico,
27:27disse que ele entrou em estado de coma.
27:29O menino Gabriel.
27:31Meu Deus.
27:33Vou pedir ao Diogo, meu primo,
27:35que ele me dê o seu ferimento.
27:37Não, não, não. Deixe, Tomásia, deixe.
27:39Cuide Vazmice da escravinha Fusione
27:41e do pai dela.
27:43Eu vou voltar para ficar com meu filho
27:45e peço ao meu
27:47sobrinho doutor que venha até aqui.
27:53Pobre da minha mãe.
27:55É demasiado dramática.
28:01Ah, prima.
28:03Que tragédia sua.
28:05Preso a uma cama e proibido
28:07de amar a senhorita Helena.
28:09E como é sincera
28:11em seu amor pelo primo.
28:13E como é linda.
28:15A mais linda senhorita
28:17que vi em toda a minha vida.
28:21Como ele está?
28:25Na mesma, minha tia.
28:27É preciso ser paciente.
28:29O coma pode se alongar indefinidamente.
28:31Diogo, meu querido sobrinho.
28:33Deve haver alguma medicina
28:35capaz de salvar o meu filho.
28:37Salve o meu filho.
28:39Eu estou fazendo o melhor que eu posso,
28:41minha tia. Já estou convencido
28:43de que não vamos perder o Gabriel.
28:45Agora é preciso
28:47só paciência e fé.
28:49E aguardar que ele saia do coma.
28:51Aguardar? Mas até quando?
28:53O tempo que for
28:55necessário.
28:57Mas não há um remédio que ele possa tomar
28:59para fazê-lo voltar a si?
29:03Pode se tentar, minha tia.
29:05Mas ainda não há nenhuma infusão que se conheça
29:07para se despertar do coma.
29:09Talvez no futuro, num outro século.
29:11Mas agora não há mais nada
29:13a fazer além de limpá-lo bem,
29:15alimentá-lo com líquidos
29:17e cuidar do ferimento até que cicatrize.
29:21Deus adiamparar meu filho.
29:25Eu tenho fé absoluta em seu poder.
29:29E agora, meu
29:31querido sobrinho,
29:33por favor vá à sala,
29:35que temos um fugitivo
29:37ferido lá.
29:39Um fugitivo, minha tia? Ferido?
29:41É, mas uma loucura
29:43da minha filha Tomásia.
29:45Não repare, se o ouvir por aí,
29:47que a sua prima Condessa é louca.
29:49Perdão,
29:51com toda humildade, mas
29:53minha tia não devia falar assim de minha prima.
29:55A Condessa Tomásia não me parece louca.
29:57Muito pelo contrário.
29:59Eu a vejo como uma mulher muito lúcida.
30:01Então não é loucura
30:03dar abrigo a uma escrava fugida?
30:05É o pai dela
30:07que está lá na sala.
30:09Ele é amigo de meu filho. Vai, vai.
30:11Eu fico aqui com Gabriel.
30:17Gabriel.
30:19Gabriel,
30:21meu querido.
30:23Meu filho amado.
30:27Gabriel.
30:31Oh, minha irmã.
30:33Está ardendo em febre.
30:35Isso é que dá. Não dormir,
30:37não se alimentar direito.
30:39Quero que Deus me leve logo.
30:41Não diga bobagem, Helena.
30:43Vosmice vai viver e ser muito feliz.
30:45Como?
30:47Como você me apaixonei por quem eu não podia?
30:49Ai, mão vinda.
30:51Por que não me avisaram?
30:53Por que não me avisaram
30:55que o Gabriel é nosso meio irmão?
30:57Papai também.
30:59Pior que um coelho.
31:01Primeiro descobrimos que a Rosa, a escrava,
31:03era nossa irmã.
31:05E agora o irmão
31:07daquela maldita condessa também.
31:09Nosso amor lindo
31:11virou um pesadelo proibido.
31:15Minha irmã
31:17me diz como eu vou tirar
31:19essa paixão de dentro de mim?
31:21Como?
31:23Você vai ter que encontrar outra paixão.
31:25A gente não manda no coração.
31:27Pelo contrário.
31:29É ele que manda em nós.
31:31Não diga isso, Helena.
31:33Não diga isso.
31:35Cuidado pra não pecar mais nem em pensamento.
31:37Vosmice não queria se separar do Leoncio?
31:39Está aí, ainda toda apaixonada por ele.
31:43É, eu sei.
31:45Devo estar
31:47parecendo a maltrapilha
31:49falando pra esfarrapada.
31:51Mas acontece que Leoncio
31:53não é nosso irmão.
31:57Ai, Malvina.
31:59Dói.
32:01Dói muito.
32:03Venha, Helena, venha.
32:05Vou levá-la para o quarto.
32:07Venha.
32:13Minha irmã querida.
32:15Sente-se, Isaura, por favor.
32:21Muito obrigada.
32:23O ferimento foi superficial.
32:25Nada sério.
32:27É, mas arde bem, doutor.
32:31Que ódio daquele senhor Leoncio.
32:33Onde já se viu
32:35querer chicotear a pobre Isaura?
32:39Graças a Deus, o meu pai
32:41chegou bem no tempo.
32:43Quanto ao senhor Miguel, teve muita sorte.
32:45A bala podia ter feito muito mais estrago.
32:47Agora é só manter o local
32:49sempre bem limpo.
32:51É, o doutor tem mãos abençoadas, mãos de anjo.
32:53Eu não senti dor nenhuma
32:55enquanto o doutor faz o curativo.
32:59Bem, agora se me dão licença,
33:01volto para a cabeceira de meu primo.
33:03Muito obrigado, doutor.
33:05Não há de que.
33:07Me perdoe, mas
33:09quanto eu lhe devo.
33:11Senhor Miguel,
33:13sei que Gabriel tem grande estima
33:15e amigo de meu primo
33:17é meu amigo também.
33:19Então costumo cobrar de amigos.
33:21Passem bem.
33:23Obrigado.
33:25É um rapaz encantador, condessa.
33:27É verdade, senhor Miguel.
33:29Diogo chegou na hora certa.
33:31E tem sido incansável
33:33na cabeceira de Gabriel, dia e noite.
33:35Tão jovem e já é médico.
33:37Se formou na corte.
33:39Minha tia adoeceu e nos escreveu
33:41recomendando-o a nós.
33:43Ela era a única irmã
33:45de minha mãe.
33:47Faleceu um mês passado.
33:49Meus pésames.
33:51Obrigada.
33:53Agora tratem de se cuidar.
33:55Já mandei preparar o quarto de hóspedes
33:57para os dois e também um lanche
33:59para recuperarem as forças.
34:01Não sei como agradecer, condessa.
34:03Ficando bom logo, senhor Miguel.
34:05E vós me ser também, Isaura.
34:07Obrigada, senhora condessa.
34:09Pelo carinho e pela atenção.
34:11Sempre ouvi
34:13maravilhas sobre a generosidade
34:15da senhora.
34:17Mas nunca pensei que fosse tanto.
34:19A ponto de me receber
34:21uma escrava
34:23como hóspede em sua casa.
34:25Vós me ser não é mais escrava, Isaura.
34:27É livre.
34:29E uma mocinha linda
34:31que há de ser muito feliz
34:33nessa vida.
34:35Assim espero.
34:37Deus a ouça, condessa.
34:45Mas até os escravos
34:47que estão na lavoura, senhor?
34:49Todos, eu disse. Todos.
34:51Mas assim o senhor vai ter prejuízo, senhorzinho.
34:53Eu vou ter prejuízo, sim.
34:55Mas não vai ter trabalho na lavoura
34:57enquanto não trouxer a escrava de volta.
34:59Eu quero todos os escravos.
35:01Todos os capatazes.
35:03Inclusive vocês.
35:05Vasculhando cada palmo de estrada.
35:07Assuntando com cada passante
35:09até descobrir o rumo que eles tomaram.
35:11Senhorzinho, eu estive assuntando por aí.
35:13Tem gente que viu a Isaura e o senhor Miguel
35:15indo na direção da fazenda da condessa.
35:21Isaura?
35:23Na casa da condessa?
35:27É informação de confiança?
35:29É, senhor.
35:31Minha inteira confiança.
35:33É, pode ser.
35:35A maldita da Tomásia me odeia.
35:37Vivia me perseguir.
35:39Colocou fogo
35:41nas minhas sacas de café.
35:43É natural que ela dê abrigo aos dois.
35:45Mas eu vou com a milícia
35:47à casa dela.
35:49Eu vou surpreender a Tomásia.
35:51Eu vou entrar naquela casa
35:53e vou sair com aquela escrava
35:55fujona pelos cabelos.
36:01É mesmo filha de negra?
36:03Mas como é que pode?
36:05Bem, pelo que consta a ciência,
36:07nos casamentos entre brancos e negros
36:09a criança pode nascer branca,
36:11negra ou mestiço.
36:13Isaura tem uma maneira excelente
36:15à mesa.
36:17E além de ser muito linda.
36:19Parabéns, senhor Miguel.
36:21Obrigado,
36:23senhora condessa.
36:25Foi a madrinha dela, a afinada
36:27senhora de Artrudes, quem deu essa
36:29educação à minha filha Isaura.
36:31Tem que lhe arrumar um marido de primeira.
36:35Quem sabe?
36:37Mas vamos precisar
36:39fugir pra bem longe daqui primeiro.
36:41Como está se sentindo,
36:43Isaura, agora que conseguiu
36:45fugir?
36:47Ainda um pouco assustada com os últimos
36:49acontecimentos. É, foi uma noite
36:51bastante movimentada.
36:53Estou preocupada com o Sinhozinho Henrique.
36:55Ficamos sabendo que ele foi
36:57preso. Mas o coronel há de dar um jeito
36:59nisso. Preso e flagrante,
37:01ele vai ficar muito tempo na cadeia.
37:03Pobre do Senhor Henrique.
37:05Pelo menos está vivo
37:07e seguro. Estou ainda
37:09mais preocupada com o pobre do André,
37:11pai. Ah, o André ficou
37:13de aparecer por aqui, minha filha. Ele deve
37:15estar por perto, escondido, mas
37:17à noite vai aparecer pra nos levar daqui.
37:19Eu tremo só de pensar que
37:21nossa casa virou um ponto de encontro
37:23para escravos fugidos. Mamãe,
37:25fui eu que insisti em ajudar
37:27seu Miguel e Isaura.
37:29Eu fico só imaginando
37:31como uma moça tão meiga e
37:33prendada sofreu as
37:35humilhações nas garras do Leôncio.
37:37Que fique
37:39livre para sempre, senhorita Isaura.
37:41É o que lhe desejo.
37:43Bem, com a licença de todos,
37:45volto para ver como está meu primo.
37:55Que Deus permita que o senhorzinho
37:57Gabriel se recupere logo.
38:01Eu vim dar parte contra
38:03a Condessa de Campos.
38:05Ela está hospedando a minha escrava,
38:07a Isaura.
38:09Eu quero. Eu insisto
38:11que o senhor tome todas as providências cabíveis
38:13e possíveis, mas
38:15eu quero a Isaura de volta à minha fazenda,
38:17ainda hoje.
38:25Música
38:27Música
38:29Música
38:31Música
38:33Música
38:35Música
38:37Música
38:39Música
38:41Música
38:43Música
38:45Música
38:47Música
38:49Música

Recomendada