Invasão de Goa, Damão e Diu foi ilegal e ilegítima, afirma Carlos Azeredo,
"Foi um ataque absolutamente ilegal, ilegítimo e contra os Direitos Humanos. O que lá vai lá vai, mas isso é uma verdade histórica, e a verdade não se torce", afirmou Carlos Azeredo, em entrevista à agência Lusa, no Porto, onde vive.
Carlos Azeredo, então com 31 anos, estava em Goa como oficial de ligação do comandante da Polícia do Estado da Índia (PEI, designação dada ao Exército português na Índia), general Vassalo e Silva, quando 50 mil tropas da União Indiana invadiram o Estado Português da Índia, ao anoitecer de 17 de Dezembro de 1961.
"Eles tinham armas automáticas e nós umas kropatchek de 1892, armas de origem checa completamente obsoletas, que era preciso carregar depois de cada tiro. Não tínhamos qualquer meio aéreo e eles atacaram-nos com aviões a jacto. Foi a primeira vez que vi um avião a jacto", recordou Carlos Azeredo.
O ataque foi feito por terra, com carros de combate blindados, por ar, com inúmeros caças e bombardeiros, e por mar, com vários navios de guerra. As tropas portuguesas ainda conseguiram rechaçar o primeiro ataque, mas a resistência durou pouco.
O então capitão Azeredo tinha a incumbência de comandar as tropas no último reduto, em Goa, mas não chegou a entrar em acção.
Com apenas uma metralhadora anti-aérea, escassa artilharia, poucas munições e só um navio de guerra, um aviso de primeira classe (maior do que um destroyer e menor do que um cruzador), os portugueses sabiam que não podiam resistir muito tempo.
Menos de dois dias depois, às 17:00 de 19 de Dezembro, as mal armadas tropas portuguesas aceitaram o cessar-fogo e a União Indiana consumou a ocupação, mas a anexação unilateral dos territórios de Goa, Damão e Diu só foi reconhecida por Portugal e pelas Nações Unidas depois do 25 de Abril de 1974.
Com o cessar-fogo, que não constituiu uma rendição oficial, como sublinhou Carlos Azeredo, a União Indiana enviou para campos de prisioneiros os cerca de 3.500 militares da PEI, metade dos quais nascidos na metrópole (Portugal continental) e os restantes nos territórios portugueses na Índia (morreram nos combates 26 portugueses continentais e um número indeterminado de goeses).
Impedidos de tentar fugir, sob pena de serem considerados "traidores", só seis meses depois um navio português foi buscar os prisioneiros, recebidos em Lisboa sob a ameaça de pistolas, dado Salazar os ter acusado de "covardes" por não terem lutado até à morte.
"Goa foi uma tragédia, um desastre nacional", frisou Carlos Azeredo, disparando críticas simultaneamente para o presidente do Conselho, Oliveira Salazar, o primeiro-ministro na União Indiana, Pandita Nehru, e o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy.
Para Carlos Azeredo, não havia qualquer razão, "a não ser geográfica", para integrar Goa, Damão e Diu na União Indiana, que era de constituição bem mais recente do que a Índia Portuguesa.
"Goa era muito mais velha do que a União Indiana, que só nasceu em 1947/48", quando passou a ser um estado independente do império britânico, salientou, recordando que as possessões portuguesas na Índia começaram com Afonso Albuquerque.
O general sublinhou que "Goa foi conquistada a muçulmanos e não a hindus", pelo que não havia qualquer legitimidade para a anexação do Estado Português da Índia pela União Indiana.
"Kennedy, que foi bem morto, teve muita culpa disso. Ele, através da mulher, deu carta branca a Nehru para atacar Goa", acusou Carlos Azeredo, referindo que, apesar de não desejar a morte de ninguém, não teve pena que o então presidente norte-americano fosse assassinado.
"O tipo [John Kennedy] era absolutamente contra Portugal, sobretudo por causa das colónias", afirmou o general, salientando que Salazar também não ajudou nada à resolução pacífica do conflito, dado que "chegou a oferecer bases aos chineses para fazerem guerra à União Indiana".
Carlos Azeredo referiu que a integração na União Indiana nem sequer era desejada pelos goeses, que lhe deram muitas provas de amizade e gratidão durante os seis meses em que esteve prisioneiro.
"Como viram as boas relações que tínhamos com os goeses, obrigaram a população a separar-se de nós. Impediram todas as visitas aos prisioneiros, à excepção de uma visita por semana da Cruz Vermelha Internacional", disse.
"Os goeses foram leais e portaram-se como portugueses até ao fim", frisou Carlos Azeredo, acrescentando o que lhe disse um oficial indiano: "Esta guerra foi uma teimosia de velhos: Nehru e Salazar".
A única "vantagem" pessoal que Azeredo disse ter tido da "tragédia" de Goa foi o despertar da sua consciência política: "Daí em diante passei a ter actividade política. Essa é talvez uma das razões porque comandei o 25 de Abril no Norte de Portugal. Foi revanche [vingança] contra a forma como fomos tratados pelo Estado Novo e por Salazar".
Passados 45 anos, o "monárquico, católico e conservador" Carlos Azeredo, que foi oito anos chefe da Casa Militar-
"Foi um ataque absolutamente ilegal, ilegítimo e contra os Direitos Humanos. O que lá vai lá vai, mas isso é uma verdade histórica, e a verdade não se torce", afirmou Carlos Azeredo, em entrevista à agência Lusa, no Porto, onde vive.
Carlos Azeredo, então com 31 anos, estava em Goa como oficial de ligação do comandante da Polícia do Estado da Índia (PEI, designação dada ao Exército português na Índia), general Vassalo e Silva, quando 50 mil tropas da União Indiana invadiram o Estado Português da Índia, ao anoitecer de 17 de Dezembro de 1961.
"Eles tinham armas automáticas e nós umas kropatchek de 1892, armas de origem checa completamente obsoletas, que era preciso carregar depois de cada tiro. Não tínhamos qualquer meio aéreo e eles atacaram-nos com aviões a jacto. Foi a primeira vez que vi um avião a jacto", recordou Carlos Azeredo.
O ataque foi feito por terra, com carros de combate blindados, por ar, com inúmeros caças e bombardeiros, e por mar, com vários navios de guerra. As tropas portuguesas ainda conseguiram rechaçar o primeiro ataque, mas a resistência durou pouco.
O então capitão Azeredo tinha a incumbência de comandar as tropas no último reduto, em Goa, mas não chegou a entrar em acção.
Com apenas uma metralhadora anti-aérea, escassa artilharia, poucas munições e só um navio de guerra, um aviso de primeira classe (maior do que um destroyer e menor do que um cruzador), os portugueses sabiam que não podiam resistir muito tempo.
Menos de dois dias depois, às 17:00 de 19 de Dezembro, as mal armadas tropas portuguesas aceitaram o cessar-fogo e a União Indiana consumou a ocupação, mas a anexação unilateral dos territórios de Goa, Damão e Diu só foi reconhecida por Portugal e pelas Nações Unidas depois do 25 de Abril de 1974.
Com o cessar-fogo, que não constituiu uma rendição oficial, como sublinhou Carlos Azeredo, a União Indiana enviou para campos de prisioneiros os cerca de 3.500 militares da PEI, metade dos quais nascidos na metrópole (Portugal continental) e os restantes nos territórios portugueses na Índia (morreram nos combates 26 portugueses continentais e um número indeterminado de goeses).
Impedidos de tentar fugir, sob pena de serem considerados "traidores", só seis meses depois um navio português foi buscar os prisioneiros, recebidos em Lisboa sob a ameaça de pistolas, dado Salazar os ter acusado de "covardes" por não terem lutado até à morte.
"Goa foi uma tragédia, um desastre nacional", frisou Carlos Azeredo, disparando críticas simultaneamente para o presidente do Conselho, Oliveira Salazar, o primeiro-ministro na União Indiana, Pandita Nehru, e o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy.
Para Carlos Azeredo, não havia qualquer razão, "a não ser geográfica", para integrar Goa, Damão e Diu na União Indiana, que era de constituição bem mais recente do que a Índia Portuguesa.
"Goa era muito mais velha do que a União Indiana, que só nasceu em 1947/48", quando passou a ser um estado independente do império britânico, salientou, recordando que as possessões portuguesas na Índia começaram com Afonso Albuquerque.
O general sublinhou que "Goa foi conquistada a muçulmanos e não a hindus", pelo que não havia qualquer legitimidade para a anexação do Estado Português da Índia pela União Indiana.
"Kennedy, que foi bem morto, teve muita culpa disso. Ele, através da mulher, deu carta branca a Nehru para atacar Goa", acusou Carlos Azeredo, referindo que, apesar de não desejar a morte de ninguém, não teve pena que o então presidente norte-americano fosse assassinado.
"O tipo [John Kennedy] era absolutamente contra Portugal, sobretudo por causa das colónias", afirmou o general, salientando que Salazar também não ajudou nada à resolução pacífica do conflito, dado que "chegou a oferecer bases aos chineses para fazerem guerra à União Indiana".
Carlos Azeredo referiu que a integração na União Indiana nem sequer era desejada pelos goeses, que lhe deram muitas provas de amizade e gratidão durante os seis meses em que esteve prisioneiro.
"Como viram as boas relações que tínhamos com os goeses, obrigaram a população a separar-se de nós. Impediram todas as visitas aos prisioneiros, à excepção de uma visita por semana da Cruz Vermelha Internacional", disse.
"Os goeses foram leais e portaram-se como portugueses até ao fim", frisou Carlos Azeredo, acrescentando o que lhe disse um oficial indiano: "Esta guerra foi uma teimosia de velhos: Nehru e Salazar".
A única "vantagem" pessoal que Azeredo disse ter tido da "tragédia" de Goa foi o despertar da sua consciência política: "Daí em diante passei a ter actividade política. Essa é talvez uma das razões porque comandei o 25 de Abril no Norte de Portugal. Foi revanche [vingança] contra a forma como fomos tratados pelo Estado Novo e por Salazar".
Passados 45 anos, o "monárquico, católico e conservador" Carlos Azeredo, que foi oito anos chefe da Casa Militar-
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