• há 4 meses
"Queria te dizer as palavras mais profundas de amor". Com essas palavras começa O Jardineiro 41, um dos cantos mais belos e profundos de Rabindranath Tagore, extraído do livro homônimo, em inglês The Gardener, publicado em 1913, quando foi premiado com o Prêmio Nobel de literatura, “por causa de seus versos profundamente sensíveis, frescos e belos, pelos quais, com habilidade consumada, ele tornou seu pensamento poético, expresso em suas próprias palavras em inglês, uma parte da literatura do Ocidente”

A poesia nos oferece uma imagem distorcida do amor. O medo de declarar os próprios sentimentos gera exatamente o contrário: brutalidade, força e, podemos afirmar, violência.

Parece um filme já visto. A genial poesia de Rabindranath Tagore nos conta como a insegurança de um homem, que se crê forte na vida, devido ao medo de desnudar seus próprios sentimentos, termina gerando o efeito contrário: o desprezo.

Poderíamos dar a esta maravilhosa composição o título de "As palavras nunca ditas que geram violência e desprezo".

O sentido do canto é de simples compreensão. Uma mulher se vê obrigada a suportar o pior porque não teve a sorte de poder ouvir as palavras de amor do homem que a deseja.

Poema "O Jardineiro 41" [Rabindranath Tagore]

Queria te dizer as palavras mais profundas de amor,
mas não tenho coragem:
tenho medo de que você ria delas.
Por isso, eu zombo de mim mesmo e
do meu segredo.
Zombo do meu segredo por medo
de que você faça o mesmo.

Queria te dizer as palavras mais sinceras
que jamais disse, mas não tenho coragem:
tenho medo de que você não acredite.
Por isso eu minto,
dizendo o contrário do que penso.
Torno meu sofrimento absurdo, por medo
de que você faça o mesmo.

Queria te dizer as palavras mais doces
que guardo para você, mas não tenho coragem:
tenho medo de que seu valor não seja compreendido.
Por isso, falo com dureza e alardeio
minha força brutal.
Te machuco, por medo de que você nunca
saiba o que é sofrer.

Queria sentar-me ao seu lado em silêncio,
mas não tenho coragem: tenho medo de que
meu coração chegue aos meus lábios.
Por isso, falo tolamente
e escondo meu coração atrás das palavras.
Trato cruelmente meu sofrimento, por medo
de que você faça o mesmo.

Desejo me afastar de você, mas não
tenho coragem: tenho medo de que se revele
minha covardia.
Por isso, venho à sua presença com
a cabeça erguida.
Mas os olhares desprezíveis dos seus olhos
mantêm vivo meu sofrimento.

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