Acordei às cinco da manhã antes do sol
Gosto de ver ele nascer e queimar o céu
colocaram uma placa no alto da cidade
onde posso ler um feitiço
“se você viver isso, não precisará de mais nada”
Esta frase me deixou triste
e meu coração acelera e meus olhos fecham
e sinto que queria viver a cidade de cabeça pra baixo
Minha avó deixou sua aldeia quando tinha a minha idade
Ela desceu o Aiari e feriu uma árvore com uma bala
Com seus olhos de carvão, carbono quatorze
Ela me diz: não olhe pra trás meu filho
Você precisa ser forte
Se precisar, estarei aqui
Você precisa ser forte
Segure a minha mão
A cidade me acorda com um relógio de camelô
Em meus dedos um anel de descompromisso
Todo mundo está procurando alguém pra culpar
Se você, bem se você
Às vezes não há muito o que fazer
Ao lado daquela livraria eu gostaria de tomar um banho de chuva
Fechar meus olhos neste frio paulistano
E imaginar que estas lojas em promoção
Vendessem milhões de sementes
Que nós
Eu e você
Num dia chuvoso e gelado
Onde só coubessem nós na rua
Pouco a pouco
Metro a metro
Plantaríamos uma floresta
Mão da mata e não mão do mato
Hoje eu queria cavar entre os paralelepípedos
e germinar uma floresta
eu e você
araçá, cupuaçu e banana
caju, cipó, cará
jerimum, taboca e bacuri
pimenta, sororoca, tajá
coca, tabaco e mariri
e continuaríamos a plantar
feijão, amendoim, cumaru
buriti, açaí e jauari
tucumã, tucum, jupati e uxi
macaxeira, aguapé, taperebá
taioba, samamúma, jenipapo
uixi, abiu, maniva e patauá
paxiuba, muirapiranga, inajá
milho, jaca e urucum
urupé, seringueira, cravo e ingá
faríamos um território floresta
derrubaríamos construções
abro os olhos e o outdoor continua lá
e eu sozinho na cidade
onde prédios são grandes colmeias sem abelhas
cobras-canoa de metal carregadas de gente sem identidade própria
contando o tempo pra não se atrasar
mas sempre com parcelas atrasadas
boletos a pagar
o outdoor continua lá
carrego sementes no bolso,
memórias de beija-flor
e saudades no coração
lembro de você e da minha avó
jogo sementes no solo acimentado
esperando que alguma,
assim como eu, brote no árido
a resistência pela persistência
se conseguirmos fincar nossas raízes
se nossa semente vingar neste solo
o outdoor é passageiro, efêmero
“se você viver isso, não precisará de mais nada”
O 7º Festival Kino Beat ocorre em formato híbrido, de 14 a 30 de novembro, online e algumas atividades presenciais em Porto Alegre.
Acesse a programação completa em www.kinobeat.com
Patrocínio: Oi
Apoio Cultural: Oi Futuro e LABSONICA
Financiamento: PRÓ-CULTURA - Governo do Estado do Rio Grande do Sul Secretaria da Cultura do RS
#proculturars #kinobeat #oi #oifuturo
Gosto de ver ele nascer e queimar o céu
colocaram uma placa no alto da cidade
onde posso ler um feitiço
“se você viver isso, não precisará de mais nada”
Esta frase me deixou triste
e meu coração acelera e meus olhos fecham
e sinto que queria viver a cidade de cabeça pra baixo
Minha avó deixou sua aldeia quando tinha a minha idade
Ela desceu o Aiari e feriu uma árvore com uma bala
Com seus olhos de carvão, carbono quatorze
Ela me diz: não olhe pra trás meu filho
Você precisa ser forte
Se precisar, estarei aqui
Você precisa ser forte
Segure a minha mão
A cidade me acorda com um relógio de camelô
Em meus dedos um anel de descompromisso
Todo mundo está procurando alguém pra culpar
Se você, bem se você
Às vezes não há muito o que fazer
Ao lado daquela livraria eu gostaria de tomar um banho de chuva
Fechar meus olhos neste frio paulistano
E imaginar que estas lojas em promoção
Vendessem milhões de sementes
Que nós
Eu e você
Num dia chuvoso e gelado
Onde só coubessem nós na rua
Pouco a pouco
Metro a metro
Plantaríamos uma floresta
Mão da mata e não mão do mato
Hoje eu queria cavar entre os paralelepípedos
e germinar uma floresta
eu e você
araçá, cupuaçu e banana
caju, cipó, cará
jerimum, taboca e bacuri
pimenta, sororoca, tajá
coca, tabaco e mariri
e continuaríamos a plantar
feijão, amendoim, cumaru
buriti, açaí e jauari
tucumã, tucum, jupati e uxi
macaxeira, aguapé, taperebá
taioba, samamúma, jenipapo
uixi, abiu, maniva e patauá
paxiuba, muirapiranga, inajá
milho, jaca e urucum
urupé, seringueira, cravo e ingá
faríamos um território floresta
derrubaríamos construções
abro os olhos e o outdoor continua lá
e eu sozinho na cidade
onde prédios são grandes colmeias sem abelhas
cobras-canoa de metal carregadas de gente sem identidade própria
contando o tempo pra não se atrasar
mas sempre com parcelas atrasadas
boletos a pagar
o outdoor continua lá
carrego sementes no bolso,
memórias de beija-flor
e saudades no coração
lembro de você e da minha avó
jogo sementes no solo acimentado
esperando que alguma,
assim como eu, brote no árido
a resistência pela persistência
se conseguirmos fincar nossas raízes
se nossa semente vingar neste solo
o outdoor é passageiro, efêmero
“se você viver isso, não precisará de mais nada”
O 7º Festival Kino Beat ocorre em formato híbrido, de 14 a 30 de novembro, online e algumas atividades presenciais em Porto Alegre.
Acesse a programação completa em www.kinobeat.com
Patrocínio: Oi
Apoio Cultural: Oi Futuro e LABSONICA
Financiamento: PRÓ-CULTURA - Governo do Estado do Rio Grande do Sul Secretaria da Cultura do RS
#proculturars #kinobeat #oi #oifuturo
Category
🎥
Curta