• há 6 anos
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No dia em que Hugo Abreu sofreu um “golpe de calor” que o levaria à morte e em que outros cinco militares precisaram de receber assistência médica, o grupo de comandos tinha estado a realizar um “carrossel” – um aquecimento para a “prova de tiro” a que o Exército chegou a fazer referência em comunicado. O exercício tem tradição na formação desta tropa de elite. Os homens são levados ao limite das suas forças físicas, até entrarem em exaustão, antes de serem conduzidos para uma simulação de combate.

A primeira semana de formação nos Comandos é de absoluto “choque” para os voluntários. Os militares são levados ao extremo e muitos não passam do primeiro teste, num curso com uma das mais altas taxas de desistência das Forças Armadas.

O “carrossel” funciona assim: de mochila às costas e armas na mão, os militares são posicionados no terreno de forma a desenhar um círculo largo, separados entre si por vários metros. Depois, pousam as mochilas, deitam-se no chão escondidos atrás da “máscara” (o nome dado ao saco), como se estivessem protegidos atrás de um arbusto. Ao sinal do instrutor, correm o mais rápido possível até à posição seguinte, como se estivessem em pleno combate e precisassem de escapar ao fogo inimigo.
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Comandos junto ao monumento aos mortos no Ultramar, antes de partirem para uma missão no Afeganistão, onde chegaram a entrar em combate

No domingo, o exercício foi feito sob um calor abrasador: a temperatura em Alcochete rondava os 36 graus. Segundo o Observador pode apurar, terá sido durante o “carrossel” que Hugo Abreu deu sinais de mal-estar. Faltavam 20 minutos para as quatro da tarde. Assim que a debilidade do furriel foi notada, o instrutor que acompanhava o grupo terá ordenado que o militar se ausentasse do circuito e recuperasse debaixo de uma árvore. Mas, nessa altura, o estado de saúde já seria demasiado grave e o militar, natural da Madeira, acabaria por não resistir ao “golpe de calor” que sofreu.
“É a dureza do treino que evita as baixas em combate”, diz um ex-chefe do Exército

“O objetivo da primeira semana de treino é levar os homens ao extremo, física e psicologicamente, para separar logo de início quem consegue e quem não consegue aguentar a formação até ao fim”, conta um militar que completou o curso. O nome diz tudo: esses primeiros dias são dedicados à “Prova de Aptidão de Comandos”.

Os elementos do curso fazem “progressões” (caminhadas em que simulam estar em busca das forças inimigas), “carrosséis”, incursões noturnas e outros exercícios. Sempre com muita componente física à mistura. Por norma, os militares tinham uma semana para fazer um “estágio” de preparação. Este ano, esse período foi alargado. “Tiveram três semanas para fazer treino físico porque, agora, sentimos que as pessoas estão menos preparadas”, reconhece um instrutor de comandos ao Observador.

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