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NotíciasTranscrição
00:00Olá, sejam todos muito bem-vindos, bem-vindas ao nosso Terra Viva Entrevista,
00:15um programa que traz uma abordagem diferente, que promove uma segunda opinião sobre os fatos
00:21que estão inseridos no universo agropecuário dentro e fora da porteira, não é isso, Pedro?
00:28Exatamente, hoje vamos falar sobre os desafios, oportunidades para o desenvolvimento sustentável
00:35da produção agropecuária em todo o Brasil, ainda no ano que vamos sediar a principal
00:40conferência do clima, a COP30, em pauta, os entraves do licenciamento ambiental, o potencial
00:47da bioeconomia, os rumos do país no mercado de carbono, uma conversa essencial para entender
00:54o futuro do agro diante das exigências ambientais globais, né Flá?
00:59Exatamente, então para a gente falar sobre tudo isso, a gente tem o prazer de receber
01:04aqui o Daniel Vargas, que é professor da FGV e também é apresentador do canal AgroMais
01:09no programa Tempo de Amazônia.
01:11Daniel, muito obrigada por ter aceitado o nosso convite, é uma alegria, viu?
01:16Bem-vindo.
01:16Muito obrigado, é uma honra, é um prazer para mim conversar com vocês.
01:20Prazer é todo nosso de te receber aqui e eu começo te perguntando, né, o Brasil tem
01:25protagonismo importante para o mundo, o agrotropical é essencial para questões ambientais, energética,
01:33alimentar, então o que que falta para transformarmos isso em estratégia de nação, né, que una
01:41crescimento, conservação e também geração de valor, não é Daniel?
01:47Eu estou absolutamente convencido de que uma das maiores virtudes que o Brasil possui
01:55é a sua capacidade ímpar, sem contraste no mundo, de no mesmo território unir uma pujança
02:02econômica associada à produção de alimentos com a pujança ambiental associada à preservação
02:09da nossa biodiversidade e das nossas florestas.
02:12O Brasil é um país que tem de um lado árvore até no nome, ao mesmo tempo em que é reconhecido
02:18nos quatro cantos do planeta como um provedor seguro e estável de alimento, a base para o
02:24equilíbrio de qualquer sociedade.
02:26A grande questão, a meu ver, é que muitas vezes o próprio brasileiro não percebe o valor
02:33e a importância das nossas virtudes.
02:37Enxergar para essa equação agrícola-ambiental que nos caracteriza, não como um problema,
02:43não como um desvio, não como uma exceção, mas como um atributo-chave que construiu o Brasil
02:49como nós o conhecemos, interiorizou o nosso desenvolvimento, promoveu uma democratização
02:54econômica sem precedentes na nossa história no século XX, como uma ponta de lança para o futuro.
03:00É a partir daqui que o Brasil pode ser cada vez mais desenvolvido.
03:07Mas para isso, e eu acho que aqui a gente entra numa zona mais cinzenta, mais dura, mas necessária
03:12de dizer, é preciso um projeto político nacional que abrace essa ideia e que entre em um processo
03:20pedagógico de explicação, de convencimento para que o país inteiro abrace essa agenda do
03:27desenvolvimento sustentável baseado na agricultura tropical como uma ponta de lança e um ambiente
03:34seguro para a gente pensar e avançar no nosso futuro.
03:38Por falar nisso, a gente tem aí questões que ainda são sensíveis.
03:41Por exemplo, tornar o sistema de licença ambiental mais eficiente, técnico, previsível, sem ter
03:48essa questão de abrir mão do rigor da proteção ambiental.
03:51Se tem algum problema, tem a fiscalização e tem o rigor da lei.
03:55Como é que torna isso ainda mais visível diante de um momento que nós estamos prestes a ser
04:01anfitriões da maior conferência do clima do mundo?
04:04Eu tenho uma visão particular sobre esse tema, Pedro, e acho que é até importante esclarecer
04:09de antemão.
04:11Eu acho que o problema mais grave do licenciamento ambiental não é que ele é rigoroso demais
04:16ou que ele é rigoroso de menos.
04:18É que ninguém sabe o que é o direito ambiental do licenciamento.
04:23Há alguns anos, nós fizemos um estudo, quando eu ainda estava me dedicado, estava dedicado
04:28a esse tema, sobre os desafios do licenciamento no Brasil.
04:33Existem três principais vícios que eu creio que caracterizam esse tema no Brasil há pelo
04:39menos 20 anos.
04:41Primeiro, um problema de competência.
04:42Então, a Petrobras tem um vazamento de óleo na Baía de Guanabara e ninguém sabe se
04:49a competência para multar é do IBAMA, do órgão ambiental do Estado ou do município.
04:54Resultados, três multam a Petrobras pelo mesmo ato.
04:58Primeiro ponto, é preciso definir com clareza quem tem competência para fazer o quê.
05:03Segundo, fizemos uma análise sobre as etapas do licenciamento ambiental.
05:07E, conforme você interpreta o emaranhado legal, você pode chegar à conclusão de
05:12que o licenciamento tem sete etapas, tem 15 ou tem 28.
05:15Então, ninguém sabe ao certo quando o licenciamento começa e quando ele termina.
05:20E, por fim, qual é a substância, qual é o direito do licenciamento?
05:24Ou seja, aquilo que garante a liberdade do produtor, do empreendedor de construir e de
05:29crescer.
05:29Também ninguém sabe.
05:30O resultado é que o nosso sistema de licenciamento é o reino da discricionariedade administrativa.
05:36Na prática, é um espaço aberto para a influência ideológica contra a produção e o crescimento.
05:41Isso não é bom para o produtor e para a economia brasileira, nem para a agenda ambiental.
05:47Sem dúvidas.
05:48E o mundo vai estar ainda mais com os olhos voltados para o Brasil, cada vez mais.
05:53E como corrigir essa distorção também nessa questão e na contabilidade climática que
05:59penaliza os países tropicais?
06:01Esse é um tema gravíssimo que está na base da discussão climática do planeta.
06:07Porque desde 2015, quando houve o Acordo de Paris, a agenda ambiental deixou de ser apenas
06:13uma agenda do clima ou do meio ambiente.
06:16Ela passou a ser uma agenda econômica.
06:18E parte do desafio dessa concepção econômica da transição verde está em atribuir responsabilidades.
06:27Quem é que responde em qual quantidade por qual problema ambiental e quem é que merece
06:32ser premiado em qual quantidade por qual benefício que é dado à natureza e ao clima.
06:37E essa contabilidade é um mecanismo por meio de que a gente coloca na conta de cada país
06:43ou de cada empresa um quanto dessas responsabilidades e um quanto dessas oportunidades.
06:49Acontece que, na prática, o regime de contabilidade climático que foi construído no mundo nasceu
06:54há 20 anos olhando para a realidade do mundo temperado.
06:58Então, basicamente, nós criamos padrões de referências e dados que olham para a maneira
07:02como a Europa, na prática, produz e utiliza aquilo como referência, como régua, para
07:07medir a produção em outras partes do planeta.
07:10Mas quando essa régua chega aqui e toca o solo do mundo tropical, as distorções são
07:16imensas.
07:17Os nossos defeitos, que também existem, parecem muito maiores e as nossas virtudes desaparecem
07:23ao olhar do planeta.
07:24E é por isso que é fundamental pensar em maneiras de atualizar, para ser gentil, aprofundar
07:33esses critérios de cálculo e de atribuição de responsabilidade.
07:37Não é para negar a agenda do clima.
07:39É para que ela possa ser aferida e tratada com rigor.
07:42O rigor que a ciência pede e o rigor junto com justiça que todos nós esperamos.
07:48Agora, como é que será o tom dessa conversa na COP30?
07:52Como é que os países europeus vão estar em pleno clima tropical, bem no centro desse
07:58clima, sentindo, literalmente, na pele, observando e, ao mesmo tempo, olhando as regras que são
08:06impostas dentro deste cenário de uma agenda que flerta com a economia, apesar de ser uma
08:11agenda ambiental?
08:12Essa é uma bela pergunta, Pedro, pelo seguinte motivo.
08:15Se a gente estivesse conversando aqui há três anos atrás, dificilmente a gente reconheceria
08:23um espaço no ambiente político da agenda climática do mundo para se discutirem esses
08:29padrões, essas regras, esses critérios de cálculo, quem é que responde pelo quê?
08:35Na prática, o que aconteceu nos últimos três anos, no entanto, é que, de um lado, os Estados
08:40Unidos disse, eu discordo dos padrões climáticos aprovados pelo planeta, saio do Acordo de
08:46Paris.
08:47E a Europa, que historicamente sempre foi o bastião de defesa do meio ambiente, decidiu
08:52mudar os próprios padrões ambientais, segundo os quais ela organiza a sua economia e espera
08:57que o mundo se adapte.
08:58Então, na verdade, eles, os países desenvolvidos, é que estão agora colocando no centro do
09:05debate internacional a renegociação dos padrões econômicos e climáticos, segundo os quais
09:12a economia do planeta vai avançar.
09:14E, na medida em que eles lideram essa agenda ou puxam esse barco, por que nós, que somos
09:20prejudicados por um conjunto de vieses embutidos em agendas que não fizemos, mas que adotamos,
09:26devemos agir de um modo distinto?
09:27Aliás, se a gente observar o que tem acontecido nas discussões e fóruns internacionais, os
09:34países em desenvolvimento, sobretudo da África, estão continuamente levantando a mão para
09:39dizer, esse critério não nos serve, não representa a minha realidade ambiental, social
09:45e econômica, não condiz com as expectativas de futuro que a minha população possui.
09:50E é neste ambiente que o Brasil vai receber, de um lado, um mundo em desenvolvimento que
09:55espera muito de nós e um mundo desenvolvido recalcitrante, que pode sim ser convidado para
10:01uma agenda, mas uma agenda que agora olhe para o mundo de uma maneira ligeiramente distinta.
10:06não para proibir, não para penalizar, não para impedir o crescimento nos trópicos, mas
10:12para apoiá-lo em novas bases, para que o crescimento, a inclusão e a sustentabilidade
10:18caminhe de mãos dadas.
10:20Exatamente.
10:21Nesse cenário, então, qual que é o papel da bioeconomia como motor de desenvolvimento
10:25para diferentes regiões do Brasil, respeitando, claro, suas especificidades sociais, ambientais
10:32e também produtivas?
10:34Também me parece um ótimo ponto, Flávia, porque ao longo dos últimos 10 anos, o conceito
10:40de bioeconomia começou a ser reinterpretado para ser visto de uma maneira muito particular
10:46na realidade brasileira.
10:48A bioeconomia como uma espécie de projeto de resistência, antieconômico, salvo uma exceção,
10:54o extrativismo de subsistência.
10:56E quando a bioeconomia se reduz a isso, ela passa a se confundir com um movimento ideológico,
11:02contra o uso da terra para a produção de alimentos, para ajudar e beneficiar justamente
11:07as populações que mais precisam.
11:09Olhar a bioeconomia desse modo me parece um equívoco conceitual e um erro político
11:14e moral, porque ela deixa de ser vista como a verdadeira oportunidade que é, em um país
11:20grande, diverso, com vários biomas, com sistemas produtivos variados, cada um com as suas virtudes.
11:26E é nessa realidade produtiva que o Brasil possui, com a sua diversidade e com seus potenciais,
11:32que a bioeconomia deve significar um outro nome para um desenvolvimento com sustentabilidade,
11:38com inclusão.
11:39Que respeite essas diversidades, mas que, sobretudo, que apoie, que estimule, que promova
11:45aquele produtor que faz bem feito a ser remunerado por isso.
11:49Então, não é olhar para o bio como sinônimo de negação.
11:54Não pode, é proibido, pare, vou te prender ou vou te punir.
11:57Não.
11:57É olhar para o bio como sinônimo de oportunidade local.
12:02Venha por aqui, faça bem feito, que você vai ganhar mais por isso.
12:05Mas, para que isso se concretize, é preciso também repensar como a economia se organiza
12:11nesse ambiente, reconhecendo, primeiro, o direito de propriedade das pessoas.
12:17Segundo, abrindo espaço para um financiamento mais barato e democratizado.
12:22Terceiro, abrindo espaços de mercado para essa produção tropical de alimento, bioenergia
12:28e serviços ambientais ganhar o planeta.
12:32E é a partir daqui que nós vamos criar um discurso e um ambiente em que os produtores
12:37olham para o bio como deve ser, como oportunidade.
12:40Na verdade, como oportunidade que eles já abraçaram, pelo menos há 50 anos, quando
12:45decidiram se aventurar pelo centro-oeste brasileiro para criar a produção tropical que temos
12:50hoje.
12:51E olhar para a bioeconomia desse modo é também reconhecer aquilo que nós temos de melhor.
12:55Fizemos bem no passado e podemos fazer muito mais.
12:59Se o mundo reconhece isso como oportunidade, vamos, então, ganhar com isso.
13:04É isso aí.
13:05Bom, Daniel, a gente vai fazer agora o intervalo.
13:07Daqui a pouquinho a gente volta trazendo outras informações para vocês, porque estamos
13:11neste clima já de COP30 e, claro, discutindo a sustentabilidade do nosso Brasil.
13:16Continuem com a gente, o nosso Terra Viva Entrevista.
13:19Volta em instantes, daqui a pouquinho, com outros destaques.
13:22Até já.
13:22Estamos de volta com o nosso Terra Viva Entrevista.
13:52E hoje a gente tem o prazer de receber aqui o Daniel Vargas, que é professor da FGV.
13:59Daniel, então a gente volta esse bloco falando sobre o agronegócio brasileiro, né?
14:05Que não deve ser tratado como um devedor ambiental.
14:09Como mudar essa realidade aproveitando os recursos e também dando espaço para que o produtor rural
14:15tenha protagonismo nessa agenda, né?
14:18Como que você avalia toda essa questão?
14:20Eu acho que, ao longo dos últimos anos, nós criamos no Brasil uma espécie de espantalho
14:29do produtor rural.
14:30Uma caricatura distorcida, com o nariz grande, com orelha diferente, com o objetivo de torná-lo
14:39uma figura estranha, indesejável, um problema brasileiro.
14:45E, à medida que o tempo vai passando e a gente vai revelando as informações e as características
14:49reais da produção de alimentos no Brasil, nós vamos corrigindo alguns dos desvios dessa
14:55caricatura.
14:56E me parece que o conjunto de defeitos que se tende a impor ao agro estão associados
15:03quase sempre às suas características ambientais.
15:07Mas vejam só, o que é o agrotropical senão um manancial de ativos verdes ímpares no
15:15planeta?
15:17Ativos verdes que são caracterizados, por um lado, pelo capital natural sob a responsabilidade
15:22do produtor nas suas áreas de preservação permanente e de reserva legal.
15:27Um saco de soja brasileira que sai do Mato Grosso e vai para a Europa carrega consigo pelo
15:32menos 20% de floresta embutida.
15:35A depender da área em que é localizado, 35% ou até 80% se for na Amazônia.
15:40Mas ninguém paga por isso.
15:42A produção tropical avançada incorporou, ao longo dos anos, um conjunto de boas técnicas
15:47de sustentabilidade, como as integrações de sistemas, em particular da agricultura
15:52e pecuária, em alguns casos floresta, que colocam esse agro numa posição ímpar de
15:57tratar a natureza como um ativo da sua produção.
16:01Ninguém paga por isso.
16:02Nós incorporamos tecnologias fundamentais para dominar o cerrado, enriquecer o solo com
16:08carbono e agora o mundo inteiro discute como é possível colocar mais carbono no solo
16:14para beneficiar o clima. Algo que, de certo modo, a gente já faz, porém com outro horizonte,
16:19com outro objetivo. E ninguém paga por isso.
16:22Então, para responder a sua pergunta, o caminho para a solução do problema é que o mundo
16:27reconheça os nossos méritos e comece a pagar por isso.
16:32Não mais e não menos, mas pagar pelos ativos incorporados na produção que hoje são invisíveis
16:39ao comércio internacional. Fazer isso, de novo, não para criar privilégios, mas para
16:45criar uma gramática equivalente de tratamento entre regimes que têm características variadas.
16:52E, ao fazer isso, eu creio, nós teremos também a oportunidade de sinalizar para o produtor,
16:57lá no interior do Brasil, que o meio ambiente é uma parte relevante da sua economia da produção.
17:03Um benefício para o planeta, mas também uma renda para ele.
17:06E toda essa discussão está centralizada em um ponto muito importante para o mundo,
17:12e principalmente dentro dessa ótica internacional, que é a Amazônia,
17:17que costuma ser centro das discussões, mas outras regiões também enfrentam entraves ambientais.
17:25E como garantir que essas outras regiões também tenham licenciamento,
17:30também tenha esse conhecimento, principalmente que as pessoas olhem,
17:34o mundo, olhem, a produção agropecuária vindo desses outros biomas.
17:38Nós temos aí o Cerrado, importante, nós temos também o Pantanal,
17:43importante falar sobre a questão do controle ali daquela região,
17:47principalmente quando você coloca o boi, que foi falado boi-bombeiro,
17:50ninguém entendeu isso, ou foi construída uma narrativa completamente distorcida
17:54do que foi falado à época.
17:56A questão dos pampas, tantos outros biomas, a Mata Atlântica,
17:59que é importante inserir nessa pauta.
18:01A gente terá esse tom também, essa força também?
18:04Ou parece que a centralização dos discursos só está em um único bioma?
18:10E eu creio, Pedro, que nós muitas vezes deixamos de entender a raiz do problema.
18:17E a raiz do problema, a meu ver, ela tem dois componentes,
18:20que precisam caminhar umbilicalmente ligados.
18:23O primeiro, ou a primeira dimensão, é a ciência.
18:27São os dados, as informações sobre a realidade produtiva,
18:31nas partes diferentes do Brasil.
18:33O Brasil não é só um conjunto intocado de floresta
18:37para a Inglês visitar nas suas férias de verão.
18:39O Brasil é um conjunto de biomas habitados por milhões de pessoas,
18:45com características ímpares de produção,
18:47mas também de benefícios ambientais.
18:49E ao lado do problema científico, que se corrige com mais conhecimento,
18:54com mais informação, com mais dados, existe um problema político.
18:59Que é verdade que o Brasil, em um ambiente global de tensões à flor da pele,
19:04como que nós estamos vivendo,
19:05representa uma ameaça competitiva para outros países,
19:08em particular na produção de alimentos.
19:10E, para lidar com problemas políticos, é preciso liderança e diplomacia.
19:16Que chamem os diferentes à mesa e que negociem parâmetros e critérios
19:21para organizar de que maneira os países vão se tratar com as suas variações.
19:27Então, de um lado, nós precisamos aprofundar, investir,
19:30e valorizar cada vez mais a nossa ciência tropical.
19:34Mas, de outro lado, a gente precisa que essa ciência
19:36instrua e equipe a nossa política e, sobretudo,
19:41a nossa diplomacia econômica internacional.
19:44Para mostrar o que a gente tem de bom,
19:46mas também para negociar e garantir que o mundo não se sinta,
19:51muitas vezes, na falsa liberdade de saber definir,
19:55de simplesmente impor, de forma unilateral,
19:59aquilo que julgam conveniente ou interessante para eles,
20:03mas que nos prejudica.
20:04Exatamente.
20:06E, recentemente, também, eu ouvi uma entrevista sua
20:08que você disse que era necessário criar uma infraestrutura
20:12para o mercado de carbono, não é?
20:14É.
20:15Esse é um ponto que, me parece,
20:16que vai se tornar cada vez mais relevante ao longo dos próximos meses.
20:21E, no final do ano, nós aprovamos a Lei Brasileira do Mercado de Carbono.
20:25E essa lei estabelece um prazo para regulamentação,
20:28inicialmente, de 12 meses renovável, que já está ocorrendo.
20:31E, na prática, isso significa construir essa infraestrutura.
20:35Que, de um lado, exige a criação das responsabilidades dos agentes públicos,
20:42que vão estabelecer as metas, distribuir as responsabilidades entre setores,
20:47fiscalizar, organizar uma espécie de cartório nacional,
20:50onde as metodologias vão ser abrigadas.
20:52Mas, também, exige, de outro lado, uma tarefa da ciência e da economia da produção.
20:58Da ciência, para tropicalizar as metodologias de cálculo.
21:03Para que o nosso mercado de carbono sirva para financiar quem faz bem feito no Brasil.
21:08O papel do nosso mercado de carbono não é simplesmente atender
21:11a uma demanda de créditos da classe alta da Noruega.
21:14É um papel de financiar, e, ao fazer isso, estimular a produção tropical brasileira.
21:21E, também, de convencer, explicar, envolver o setor produtivo,
21:26que, em última análise, é quem mais pode e deve se beneficiar
21:30com o mercado de carbono bem construído.
21:33Sempre atento a um risco e um alerta.
21:37O mercado de carbono tem duas pontas.
21:39Uma que paga e uma que recebe.
21:41O resultado dessa história depende de como nós construímos essa regulamentação.
21:47Então, não se trata apenas de construir qualquer infraestrutura,
21:50mas de criar uma infraestrutura brasileira,
21:53para a realidade tropical brasileira, e não para fazer bonito para gringo.
21:58Perfeito.
21:59Agora, dentro dessa questão de fazer bonito para gringo,
22:02a gente tem um ponto interessante, que é nessa COPPE.
22:05Nós já estamos caminhando a passos largos para essa chegada tão importante.
22:11lá no Pará.
22:12Como é que a gente vai chegar?
22:14O Brasil vai entrar de uma forma ativa ou reativa?
22:18Olha, também é um belo ponto, Pedro.
22:20Porque a gente sabe que, ao longo dos últimos anos,
22:22o Brasil é uma espécie de espectador nas discussões climáticas globais.
22:26Ainda que, historicamente, tenha tido um papel de liderança aqui ou ali,
22:30a verdade é que a gente vai, se reúne, um conjunto de lideranças fazem os seus encontros,
22:34tomam os seus cafés, depois voltam para casa para contar o que os outros decidiram.
22:38Agora, a coisa mudou.
22:40Porque a responsabilidade do Paissede inclui, inclusive, participar na definição da agenda
22:46e moderar e mediar as negociações internacionais.
22:50O que a gente precisa é aproveitar essa oportunidade
22:54para atuar não apenas como um cozinheiro que cozinha a comida dos outros,
23:01segundo os nutrientes que eles trazem para nós,
23:03mas um cozinheiro que oferece o cardápio e que escolhe a refeição,
23:08que é também a mais importante ou a mais deliciosa para nós.
23:13Significa que o Brasil deve ter a ousadia e a sabedoria de chamar para si o papel de protagonista
23:21na organização de um evento que não vai ser só mais um evento como todos os outros.
23:26Vai ser um evento no mundo tropical, um país imensamente pobre, preservado,
23:33e que, de certo modo, abriga as expectativas de boa parte do cinturão tropical do mundo,
23:38que olha para nós como uma esperança de representar os interesses submersos,
23:44ocultados, desprezados, de quem vê no desenvolvimento uma tarefa necessária
23:49e pode aproveitar o clima como uma rota para isso.
23:54Exatamente. E a gente espera, então, que o Brasil faça bonito.
23:58Aliás, tenho certeza que o Brasil vai fazer bonito e mostrar para o mundo
24:02a sustentabilidade, a nossa produtividade que a gente tem aqui, não é, Daniel?
24:06Olha, foi um prazer te receber aqui no nosso Terra Viva Entrevista.
24:10Foi uma grande aula para a gente aqui e também um preparativo, né,
24:14para a COP e para quem está nos assistindo.
24:17Muito obrigada pela sua participação.
24:19Quero deixar o convite para você voltar mais vezes, viu?
24:22Sempre que quiserem.
24:23Além do convite, Daniel, eu queria também que você deixasse o seu contato pessoal
24:26também acompanhar, porque você também tem um papel importante na AGV.
24:29Claro, muito obrigado.
24:30Sempre um privilégio participar desse diálogo com vocês.
24:33As pessoas podem me localizar nas mídias sociais.
24:36Eu participo do LinkedIn, daniel.barcelos.vargas.
24:41Também tenho o Instagram, daniel.vargas.bio.
24:45E estou sempre à disposição.
24:47O que eu puder contribuir, contem comigo.
24:49Está certo. O Daniel a gente encontra também no Agro Mais, né, Flá?
24:52Exatamente.
24:52No programa É Tempo de Amazônia, sempre semanalmente trazendo informação para a gente.
24:57E olha só, o Terra Viva Entrevista vai ficando por aqui.
24:59Se você quer rever esses e outros programas e ficar por dentro das notícias do Agro,
25:04é só procurar o Canal Terra Viva no YouTube e também nas redes sociais,
25:08arroba Canal Terra Viva.
25:09Mas também tem uma novidade, né, Flávia?
25:11Exatamente.
25:12Tem o nosso aplicativo Newco Play.
25:15Fica o convite para todos baixarem e acompanharem toda a nossa programação em primeira mão.
25:20Muito obrigada pela sua companhia e audiência e, claro, até o nosso próximo encontro.