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Dulce Buss da Silva perdeu o filho de oito anos em decorrência de um acidente de trânsito. Quando a morte cerebral foi confirmada, ela e o marido, Cláudio, disseram "sim" à doação de órgãos.

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Transcrição
00:00Conta pra gente quem era o Bruno, como ele era.
00:03Ai, o Bruno...
00:07Ele era uma criança maravilhosa.
00:14Não porque ele não tá mais aqui, né, mas...
00:18Ele era uma criança que fazia as artes dele como toda criança.
00:24Mas ele era uma criança educada, que respeitava, que...
00:28Queria ajudar os outros, queria ajudar sempre todo mundo.
00:32Ele sempre dizia que ele queria ser bombeiro, porque ele queria salvar vidas.
00:37Não sei se fosse adulto, seria ser mesmo, né, porque as crianças têm sonhos, né?
00:44Mas...
00:46Muito alegre, muito extrovertido, muito carinhoso.
00:52Eu e meu marido, a gente sempre conversou sobre doação de órgãos.
00:55Eu sempre falei pra ele, dia que eu for antes, se eu for antes de ti, pode doar tudo.
00:59Tudo.
01:00Ele, mesma coisa.
01:03Que...
01:04Vai embora e ninguém mais usa, né?
01:06A gente não precisa mais disso.
01:08E do Bruno, a gente nunca conversou, porque a gente nunca imaginou que a gente ia precisar conversar sobre isso em relação a ele.
01:13Mas naquele momento, assim, eu só pensava assim, eu não quero que ninguém mais passe por isso, pelo que eu tô passando.
01:25Então, acho que alguma coisa veio e falou pra mim, né, pra doar.
01:28A gente saiu de casa, eram umas 10 e 15, 10, 10 e 15.
01:34Porque a gente ia pra praia, né, na casa da minha sogra, ela, minha cunhada, meu cunhado, eles estavam tudo lá já.
01:39Eu só lembro a gente subindo, assim, pra pegar a BR.
01:43Depois disso, eu não lembro mais de nada.
01:45E apagou.
01:46Graças a Deus, eu não lembro de nada.
01:47E ali, logo na frente, ali naquela curvinha ali, em frente à mecânica Paraná, o meu marido disse que ela simplesmente invadiu a nossa pista e deu de frente.
01:58Eu só lembro quando eu acordei no hospital às 3 da manhã, que daí eu escutei o Claudio falando mais do lado.
02:05Aí eu só vi aquele teto branco e perguntei, chamei ele e o Claudio, o que que aconteceu? Onde a gente tá?
02:11Delícia, a gente tá no hospital.
02:13Eu disse, tu não lembra do acidente que veio o carro pra cima de nós?
02:16Eu disse, não, eu não lembro.
02:17Aí eu perguntei de novo, e o Bruno?
02:20Aí ele disse, não, o Bruno já tá sendo atendido.
02:23E disse, daí eu apagava, assim, né?
02:26E aí consegui passar o telefone da minha tia ali, porque eles precisavam chamar o responsável pra assinar pra gente fazer a cirurgia.
02:35E o telefone do meu marido tinha quebrado no acidente, o meu tava na bolsa e a minha bolsa, não achava a minha bolsa, tinha ficado no carro.
02:43Então não tinha documento meu, nada.
02:44E daí eu também apaguei de novo, que fui pra cirurgia, só acordei no sábado de manhã, na UTI.
02:50E foi isso.
02:55O momento que a gente recebeu a notícia foi na quinta-feira, acho que foi na quinta-feira de manhã, que eles vieram conversar com a gente, que eles iriam fazer os testes, né?
03:07Que são três testes que eles fazem pra saber se existe a morte cerebral ou não.
03:12E daí eles falaram que iam fazer esses três testes pra ver, né?
03:17E daí a minha irmã e a minha cunhada que acompanharam, né?
03:19Porque como a gente não tinha condições, a gente tava acamado, aí as duas acompanharam.
03:24A senhora e o seu marido?
03:26E eu e o meu marido, a gente tava os dois, né?
03:28Meu marido quebrou o cetábulo e eu tava com o braço quebrado, perna, costela, tudo.
03:33E meu marido tinha feito a cirurgia na quarta-feira.
03:40E daí as duas iam acompanhada.
03:42E quando voltavam do primeiro teste, eu só perguntava, e aí?
03:46O que que deu?
03:46Elas só faziam assim.
03:49Segundo teste, a mesma coisa.
03:51O terceiro teste, elas voltaram, eram lá pelas cinco horas da tarde, eu acho, não lembro mais certo, mas mais ou menos nesse horário.
03:58Então, quando elas voltaram do terceiro teste,
04:03eu lembro que a minha irmã veio na frente
04:05e vi todo o pessoal vindo atrás.
04:09A psicóloga do hospital, a Luana, que ficou o tempo todo com a gente.
04:13Veio os médicos, o cirurgião pediatra que fez a cirurgia dele,
04:17veio mais a enfermeira.
04:19Veio todo mundo atrás, entrando no quarto.
04:22Eu só falei pra minha mãe assim, meu Deus!
04:26Porque a gente já sabia a resposta, né?
04:29Mas a gente sempre tem a esperança.
04:31E daí eles falaram tudo, tinham feito os testes,
04:36que tinha sido confirmada a morte cerebral dele.
04:41Daí isso foi na quinta, né?
04:43Na sexta foi feita a cirurgia dele.
04:45E no sábado, quando eu estava no hospital ainda,
04:50a gente já viu na mídia, nas redes sociais,
04:53que o coração tinha ido pra São Paulo.
04:57Uma criança de lá.
04:58Isso hoje faz muito bem pra gente.
05:05Sabendo que tem famílias que não estão sofrendo,
05:08que a gente está.
05:11E...
05:11Bom se todo mundo fizesse.
05:15Porque o corpo da gente,
05:16a partir do momento que o coração para,
05:18o cérebro para,
05:20a gente não precisa, não serve mais pra nada.
05:23E por que não passar adiante?
05:28Tchau.
05:30Tchau.
05:31Tchau.
05:32Tchau.
05:33Tchau.

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