No Dia Dia Rural desta quarta-feira (16), o jornalista Otávio Céschi Junior entrevista no Assunto de Primeira o Pesquisador da Unesp, Lucas Guedes.
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NotíciasTranscrição
00:00Bem, hoje com o pesquisador da Unesp, o Lucas Guedes. Boa tarde, Lucas.
00:07Boa tarde, tudo bem?
00:08Tudo bem. Vamos falar sobre a produção de um fungo que controla doenças em plantas, doenças agrícolas.
00:17Vamos falar sobre biotecnologia, na verdade, a utilização de fungos, biotecnologia, especificamente que fungo é esse?
00:23Nós já temos vários aí que são utilizados. Quem é esse novo fungo? Como é que foi o trabalho de pesquisa? Começamos por aí já.
00:33Pois bem, esse que nós trabalhamos foi com tricoderma, que é um fungo de solo muito comum, muito utilizado para controle de diversas doenças e para melhorar o desenvolvimento das plantas como um todo.
00:45O que nós fizemos no nosso trabalho foi modificar um pouco o processo em si de multiplicação, de crescimento desse fungo.
00:56Nós utilizamos um substrato pouco utilizado, de baixo custo e até como reaproveitamento de uma matéria-prima que a gente fez à base de farinha de arroz.
01:06Essa farinha de arroz foi feita através de quirera de arroz, que é um subproduto do processamento do arroz.
01:13Nós conseguimos, então, otimizar as condições de crescimento desse fungo para conseguir um maior número de propágulos, que nós falamos, de conídeos.
01:24E assim nós conseguimos fazer uma formulação um pouco diferente também, que teve resultados bastante positivos, tanto em relação a controle de doenças.
01:35No caso, a gente avaliou no patosistema de Sclerotinus sclerotiorum, que é o mofo branco, e também com relação à vida de prateleiro do nosso produto, que foi bastante satisfatória, bastante estendida.
01:46Bom, então, trocando em milto, vocês deram uma comida nova para esse fungo aí e ele gostou mais, que é o arroz.
01:53Exatamente, mais ou menos isso.
01:55Mais ou menos isso.
01:55Aí ele se proliferou mais rápido e ficou mais eficiente.
01:59Qual é a comida que vocês davam antes que ele não gostava?
02:01O processo tradicional, pode-se falar, no substrato, na indústria utiliza cereais, são grãos, principalmente o arroz.
02:11Então, esse fungo, ele coloniza o arroz, ele cresce, vai produzir, então, os conídeos que nós falamos, nós chamamos.
02:18E esses conídeos, após um período de 10 a 15 dias, eles são extraídos do grão, formulado, então, gerado um produto final, um produto comercial.
02:28O que nós utilizamos foi algo parecido, só que nós utilizamos a farinha de arroz, mas pensando de retirar um processo na indústria, que seria a extração dos conídeos.
02:41Por conta da farinha ser uma granulometria bastante pequena, a gente não tinha necessidade de extrair, formulamos, utilizando ela mesmo como um inerte, um carreador, no produto final, e fizemos um grânulo a partir disso.
02:54Você falou que era um fungo de solo, ele é para combater o hematóide, ou se não for, ele combate o quê?
03:02Tem alguns trabalhos, sim, que reportam efeito com o hematóide, principalmente pela produção de algumas enzimas que acabam atuando sobre os ovos.
03:10Então, tem um efeito, sim, mas o foco dele, o que é mais recomendado é para controle de doenças de solo,
03:17também na promoção de crescimento de plantas, solubilização de nutrientes, coisas mais nesse sentido.
03:23E como é que é a utilização dele? Como é que ele é colocado na cultura?
03:30Ele é pulverizado igual a um produto químico comum.
03:35É misturado, feito a mistura, vai no tanque, ele é pulverizado.
03:38Só que ele é direcionado ao solo, não é um fungo de parte aérea.
03:43E a ação dele começa em quanto tempo? Dura quanto tempo?
03:47Você precisa repetir isso de quanto em quanto tempo? Como é que é a receita dele, do bolo?
03:53É, como eu falei, ele é um fungo de solo, ele é nativo, então é comum se encontrar, se isolar, é bastante comum,
03:59principalmente quando você vem após a colheita do milho ali, onde você vê bastante matéria orgânica, palha, assim,
04:05então você vê bastante ele presente na área.
04:08Ele é um fungo, além dele controlar outras doenças, ele é um decompositor de matéria orgânica também.
04:12Então, ele é aplicado, ele vai manter uma população ali no solo, tendo matéria orgânica, substrato,
04:19coisas para ele colonizar, principalmente plantas, que ele coloniza as raízes e fica ali naquele ambiente.
04:26Então, ele se mantém por bastante tempo.
04:29Em torno ali de uma semana, você já consegue, tendo matéria orgânica ali,
04:34você já consegue ver os resultados e eles crescendo no ambiente.
04:37Então, pelo que você me diz, que ele deixa depositados resíduos no solo,
04:41ele acaba servindo também como um substrato, um alimento, uma espécie de adubo para a planta?
04:47De certa forma, sim.
04:49Ele acaba melhorando, sim, o desenvolvimento da planta por N motivos.
04:54Tá. Onde é que vocês estão utilizando esse fungo já?
04:57É, esse fungo, esse trabalho que nós fizemos foi experimental, foi a pesquisa,
05:03foi minha tese de doutorado que eu desenvolvi na Embrapa Meio Ambiente.
05:08E ele ainda está em estudo.
05:09O que nós fizemos foi desenvolvermos essa primeira etapa, validamos algumas coisas.
05:15E outras pesquisas estão sendo conduzidas nessa mesma linha,
05:20com outras pessoas agora que estão lá na Embrapa.
05:23e em uso acredito que não tem ainda, mas está mais no sentido de desenvolvimento e estudo da técnica.
05:31Mas ele já mostrou resultados mais positivos do que os cultivados no outro meio, né?
05:39É, na verdade, não necessariamente que ele foi melhor do que o outro,
05:43é só mais um método, uma forma diferente também que dá para se fazer.
05:47E o que nós conseguimos fazer nessa formulação, é que como a farinha de arroz, o próprio substrato, ele vai junto,
05:55a farinha, a maior composição dela é amido.
05:59Então o tricoderma, ele consegue também se nutrir desse amido,
06:02então eu vou entregar também já uma fonte de energia para ele.
06:07Então ele consegue até mesmo se multiplicar no próprio substrato,
06:11e o que a gente consegue ver depois de aplicação, é que ele acabou até por aumentando a concentração.
06:16Então a gente aplica numa concentração X, ele vai hidratar o grânulo em si,
06:21ele vai começar a colonizar o próprio grânulo, e assim ele acaba por aumentando a concentração.
06:26Então você pega um produto X e daqui a alguns dias ele está numa concentração até mesmo maior.
06:31Bom, você...
06:31Isso a gente observou em sala de laboratório.
06:33É, para a gente terminar, vocês estão numa fase experimental ainda, mas já tem resultados positivos.
06:39E aí fica a pergunta, você acha que a tendência é usá-lo preventivamente,
06:44ou na forma de cura já depois que houver alguma infestação?
06:49É, o controle biológico de forma geral, ele deve ser usado sempre preventivo,
06:54porque depois que o dano já foi feito, você não tem retorno mais, então é sempre preventivo.
07:00É, depois que o paciente foi para a UTI, para tirar de lá é mais complicado um pouquinho.
07:06Exatamente.
07:06Ok, Lucas, muito obrigado pela sua participação, parabéns pelo brilhante trabalho,
07:11e segue em frente, depois você manda notícias aí, quando já tiver mais dados concretos
07:16sobre a utilização de mais esse produto da biotecnologia, que é o combate biológico,
07:22que é muito legal, que aliás, o Brasil é o país onde o combate biológico mais cresce,
07:27a biotecnologia mais cresce no mundo, é impressionante.
07:32E ela vem sendo trabalhada na sua utilização junto com os compostos químicos também,
07:36mas vai num crescente aí na casa de mais de dois dígitos por ano, né?
07:41Exatamente.
07:42O que diz as pesquisas é que o crescimento do setor de biológico está na casa ali de 15% ao ano.
07:48Então é uma coisa que veio para ficar e só vai aumentar daqui para frente.
07:52Ok, então. Muito obrigado, Lucas. Deixe um endereço de internet para quem quiser mais informações sobre o nosso assunto.
07:59Quem quiser entrar em contato comigo, é só mandar um e-mail.
08:02Meu e-mail é lucasguedes, com dois S no final, ponto agro, arroba gmail, ponto com.
08:07Ok.
08:08Se tiver alguma dúvida, pode me escrever que eu converso com vocês.
08:12Aí. Um abraço, boa quarta e feliz Páscoa antecipada já, né?
08:16Tá bom? Estamos na Semana Santa.
08:19Muito obrigado a vocês.
08:20Ok, um abraço.