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00:00Olá, boa noite e bem-vindos a mais um Ponto de Vista.
00:08A TV Tribuna se prepara para apresentar este ano, no próximo sábado, 19 de abril,
00:14mais um programa Caminhos da Paixão.
00:17E pela segunda vez, o programa será conduzido pelo jornalista Francisco José,
00:22que é o nosso convidado de hoje.
00:24Hoje, Francisco José, ou Chico José, é uma referência para mim e para muitos jornalistas,
00:30e também para estudantes de jornalismo aqui no Estado e em todo o Brasil.
00:35Vamos falar do Caminhos da Paixão, mas também da carreira desse mestre do bom jornalismo.
00:42Chico, em primeiro lugar, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:46É uma honra ter você aqui com a gente no Ponto de Vista.
00:49Eu que agradeço, principalmente depois dessa abertura de tantos elogios.
00:54Eu não mereço tanto.
00:55É uma honra estar aqui com você.
00:57Você sabe a admiração que eu tenho por você, que sempre tive.
01:01A recíproca é verdadeira.
01:02A gente vai começar então, Chico, falando do Caminhos da Paixão, né?
01:06Como é percorrer essas várias paixões que a gente sabe que existem em Pernambuco?
01:13Como foi para você percorrer esses caminhos todos?
01:16É, nós saímos do litoral ao sertão, procurando personagens.
01:23Encontramos, por exemplo, sendo batizado no Rio São Francisco, um Cristo negro.
01:30E por coincidência, Maria, no espetáculo, era a mulher dele.
01:35Então, eram personagens completamente diferentes.
01:38E fomos ao arcebispo para que ele esclarecesse.
01:43Dom Paulo Jackson.
01:44Dom Paulo Jackson, se o Cristo era negro.
01:48E ele foi um personagem maravilhoso no programa.
01:51Nós encontramos um personagem que era pescador e, ao mesmo tempo, era Satanás.
01:58Não fazia outra coisa não atazanar o Cristo.
02:01Uma Maria com 18 anos de idade, que é uma atriz maravilhosa.
02:06E saímos procurando esses personagens.
02:11Que era o diferencial.
02:13Mostrar só a paixão de Cristo, todo mundo já conhece.
02:16Agora, esses personagens foram maravilhosos.
02:20Você está produzindo agora o segundo programa conduzido por você.
02:24E eu queria aproveitar agora para a gente ver um pouquinho do que foi o Caminhos da Paixão do ano passado.
02:30Vamos ver aí.
02:32A cada ano, na Semana Santa, atores e atrizes, profissionais e amadores,
02:39vestem-se com as roupas do passado para encenar a história que os tornou cristãos.
02:45No sentido da alma, voltada para orações guiadas pelos apelos do coração.
02:53As paixões expandem-se pelo mundo.
02:55Mas é aqui em Pernambuco, onde encontramos as apresentações mais autênticas.
03:01Em espetáculos, criados e interpretados pelo povo.
03:05Durante a nossa jornada pelos Caminhos das Paixões,
03:08deixamos de lado os atores consagrados e as superproduções.
03:13Seguimos o roteiro da vida, de pessoas simples que se consagram pela humildade e pelo jeito autêntico de ser.
03:22A Maria, ainda menina, que demonstra com alma seu sonho de ser mãe.
03:28O ator que vive na mata, acalentando o delírio da solidão.
03:32O jovem que cresceu na roça, mas se tornou o rei da Judéia,
03:37batizado no São Francisco, como se estivesse no Rio Jordão.
03:41E muitos outros personagens anônimos, figurantes, atores e atrizes,
03:48levando emoção aos seguidores em cada apresentação da Via Cruzes,
03:54interpretando a história do Filho de Deus no maior espetáculo da Terra.
03:59Aí, muito bonito, né, Chico?
04:10Agora você falou que quando esse Cristo negro, você quis entrevistar o arcebispo, Dom Paulo Jackson.
04:18Se era possível que o Jesus Cristo tivesse sido negro.
04:22Você lembra o que foi que ele respondeu?
04:23Ele respondeu que certamente ele não era loiro, ou não tinha pele clara, de olhos azuis.
04:31E como a população da Judéia, a população daquela região toda tem a pele escura,
04:40não se surpreenderia se o Cristo fosse negro.
04:44E uma coisa que ele concluiu de forma impressionante, é que independente da cor,
04:50o que importa é quem foi o Cristo, o que ele fez.
04:54Agora, Chico, você é um jornalista que viveu grandes aventuras, né?
04:58Essa, a paixão de Cristo, a paixão, morte, ressurreição de Jesus, foi também uma grande aventura.
05:06Concorda?
05:06Concordo.
05:08E eu acompanhei de perto porque eu já fiz isso na antiga Jerusalém.
05:14Eu já fiz os caminhos de Cristo.
05:16A paixão de Cristo, por onde o Cristo passou.
05:20E é muito emocionante você ver numa cidade do interior, uma cidade distante,
05:27com personagens, com atores da própria cidade,
05:31viver essa história que foi tão significativa para a humanidade.
05:35Agora, Chico, você começou no jornalismo nos anos 60, né?
05:39Em 64, você entrou no Jornal do Comércio,
05:43cobriu as Copas de 66 na Inglaterra e de 70 no México pelo Jornal do Comércio.
05:49Queria saber como foi para você cobrir aquela seleção
05:52que acabou se tornando tricampeã mundial.
05:55Foi em termos das seleções que eu fiz,
05:59porque depois eu ainda fui a quatro Copas pela Globo e duas Olimpíadas.
06:02Para mim foi a mais significante, porque eu acompanhava a seleção brasileira.
06:08Naquela época não tinha treino secreto.
06:11O Brasil se preparou para ganhar a Copa do Mundo.
06:14Ele ficou 20 dias treinando, o que é uma coisa rara.
06:18Hoje convoca, porque cada um joga num dos países da Europa, de fora,
06:23tudo e chega aqui e bota para jogar.
06:25É o que vem acontecendo nos últimos anos, nas últimas Copas.
06:30E lá não.
06:32Treinava.
06:33Eu tinha uma participação importante na cobertura,
06:36porque eu fazia o mesmo que todos os repórteres,
06:39de emissoras famosas, de todos que estavam lá.
06:42Eu tinha o mesmo credencial.
06:44E para mim foi uma realização.
06:47Poder conviver com aquelas feras, com aqueles jogadores.
06:50Eu, inclusive, fiz o casamento de Pelé depois aqui e pedi a ele para esperar.
06:57Ele esperou 15 minutos para entrar ao vivo, tudo.
07:01Isso é o resultado do que nós convivemos no dia a dia durante a Copa do México.
07:07Eu fui campeão também pela Argentina em duas Copas do Mundo,
07:12porque eu cobri a Argentina.
07:13Cobriu em 78 e 86.
07:15E 86.
07:15Para quem cobriu seis Copas, como você acabou de dizer,
07:20ver a seleção brasileira na situação em que está hoje deve ser bem difícil, não é, Chico?
07:24É difícil.
07:26Eu nunca vi uma seleção brasileira tão ruim.
07:30E eu tenho esperança,
07:33porque os jogadores do ataque estão entre os melhores do mundo.
07:37Se você ver Rafinha, Vini Júnior, Rodrigo,
07:42você vai ver que são jogadores excepcionais.
07:44O que falta é a bola chegar até eles.
07:48O que falta é o que acontece.
07:50Não joga bem no Real Madrid, não joga na seleção.
07:55A bola não chega no cara, o cara fica sozinho, perdido.
07:58Não existe um esquema tático.
08:00O Brasil não tem meio de campo.
08:02É uma pena.
08:03É uma tristeza, na verdade.
08:04É uma tristeza ver a seleção jogar hoje.
08:06Chico, queria continuar um pouquinho falando da sua carreira.
08:09Em 76, depois da experiência do Jornal do Comércio,
08:12em 76 você chegou a Globo Pernambuco.
08:15E pouco depois, você passou mais de 46 anos na Globo Pernambuco,
08:20e logo depois, um pouquinho depois de você chegar,
08:23você teve a oportunidade de começar a mostrar a miséria da seca,
08:27onde milhares de nordestinos morriam de fome ou sede.
08:31nordestinos e os animais deles também.
08:35Isso em plena ditadura militar.
08:37Em 1976 você entrou e deve ter feito essas matérias, sei lá,
08:41em 77, talvez em 78,
08:44e sempre cobrindo aquelas frentes de trabalho da seca,
08:49mostrando muita miséria, muita pobreza.
08:52Houve algum, sei lá, era regime militar,
08:56houve alguma queixa para a TV Globo na época,
08:59porque você estava mostrando esses problemas?
09:02Não, o que havia eram palavras proibidas.
09:07A censura proibia falar fome.
09:10Eu não podia dizer que aquela pessoa estava com fome,
09:13mas não precisava dizer.
09:15Eu entrava na casa,
09:17perguntava quanto tempo esse fogão, a lenha,
09:19não é aceso, não tem carvão aqui, não tem nada.
09:23E a dona da casa dizia, há 15 dias,
09:25eu não tenho nada para os meus filhos comerem.
09:28Eram coisas emocionantes.
09:32Se você for pesquisar no Google,
09:35foram 500 mil pessoas que morreram de fome e sede.
09:41E ninguém denunciava isso.
09:43Na época havia uma dificuldade muito grande.
09:46A tecnologia não permitia que eu entrasse ao vivo,
09:50não entrava ao vivo de lugar nenhum na época.
09:52Eu comecei trabalhando com uma imagem preta e branca.
09:57Era mandar a película, o filme,
10:00para que de ônibus,
10:01esperava o ônibus na estrada, mandava.
10:04Mas mesmo assim,
10:05as reportagens eram muito realistas,
10:08muito contundentes.
10:09Você vê que nossos companheiros estavam morrendo ali,
10:13e tinha gente que me criticava.
10:15Às vezes eu tinha folga,
10:16ficava jogando vôleibolzinho na praia,
10:19lá em Boa Viagem,
10:20passava o carro e dizia
10:21aí o mensageiro da miséria,
10:23só mostra o Nordeste,
10:25a miséria do Nordeste.
10:26Os problemas do Nordeste.
10:27Mas eu estava fazendo o meu papel,
10:29eu estava denunciando a falta de condições,
10:33não tinha energia elétrica nas casas,
10:37não tinha assistência médica,
10:39não tinha ambulância,
10:40não tinham hospitais,
10:42nem a BR-232 era asfaltada.
10:44Tudo era difícil para chegar ao sertão.
10:48E você disse a mim,
10:49um pouquinho antes da gente vir para cá,
10:50para o estúdio,
10:51que na época até o Roberto Marinho,
10:54a TV Globo,
10:55lançou uma campanha, né?
10:56Foi.
10:56Iniciativa do próprio Roberto Marinho.
10:59Eu fiz os anjinhos da seca.
11:02As crianças que morriam,
11:04e eu fiz um avô fazendo a cova
11:08e dizendo,
11:08vou enterrar mais um anjinho.
11:10Porque aquela criança era enterrada,
11:13sem nome,
11:14sem batismo,
11:15tudo.
11:16Era um anjinho.
11:17E aí eu fiz também as viúvas da seca.
11:20Uma que o marido foi embora,
11:21e isso aconteceu muito,
11:23vai para São Paulo,
11:25arranja um emprego,
11:25fica lá,
11:26casa de novo,
11:27e ela segurou a barra com dez filhos.
11:31O mais velho tinha doze.
11:32E essa reportagem com a dona Iraci
11:35e Oricuri foi muito marcante.
11:37Então, o Roberto Marinho reuniu,
11:39muita gente lá da redação,
11:42os diretores do Globo Repórter,
11:46do Fantástico,
11:47do Jornal Nacional,
11:49e disse,
11:49nós não podemos ficar só mostrando isso aí.
11:53Vamos procurar soluções.
11:55E aí o Paulo Gil,
11:57que era do Globo Repórter,
11:58disse,
11:59doutor Roberto,
12:00tem uma solução.
12:01Contratar professores das universidades do Nordeste,
12:06eles ficarem seis meses na região da C,
12:09em busca de soluções.
12:11Aí foi criada a campanha,
12:13Nordestinos,
12:14o Brasil em busca de soluções.
12:17Foi quando vieram as ideias de barrar os rios.
12:20Por exemplo,
12:21o rio Pageu,
12:22ele fica seco a maior parte do tempo,
12:24mas quando vem as enxurradas,
12:26a água vai toda embora.
12:27E com a ideia dos professores,
12:30houve barragens e ficam açudes,
12:32para durante a seca ainda ter água para eles.
12:36As calhas,
12:37as cisternas,
12:39foram ideias dos professores das universidades do Nordeste.
12:43Chego,
12:43depois de mostrar a miséria no sertão nordestino,
12:46você começou a ganhar espaço para matérias também até internacionais.
12:50Você esteve,
12:51como você já falou,
12:52na Copa de 78 na Argentina,
12:54esteve também cobrindo a Guerra das Malvinas também lá na Argentina.
12:57e em 82,
13:01quando você começou a viajar mais pelo mundo,
13:05só depois foi que você começou a viajar para mostrar as belezas,
13:08os desafios e até os problemas da natureza.
13:11Como é que foi isso?
13:13Como foi abrir esse espaço dentro da TV Globo
13:16para mostrar coisas bonitas da natureza também?
13:19Não só dentro da TV Globo,
13:21mas para os brasileiros também.
13:23Eu tinha uma dívida
13:24com essa história de mostrar a miséria do Nordeste.
13:27Aí fui mostrar o outro lado,
13:31pedi para fazer reportagem em Fernando de Tonoronha.
13:34E havia uma resistência,
13:37porque não era a cara do Globo Repórter.
13:39Mas depois que a primeira matéria foi ao ar,
13:42houve um acréscimo de audiência grande.
13:46Então, pô,
13:47deu resultado.
13:48Vamos fazer mais,
13:49faz outra.
13:50E nessa de fazer outra,
13:52eu fui fazer Atol das Rocas,
13:54fui fazer Abrólios,
13:55Serra da Capivara,
13:57que é um patrimônio extraordinário do Nordeste.
14:01É patrimônio da Unesco também.
14:03Lá tem mais de 2 mil sítios arqueológicos.
14:07E um museu de primeiro mundo no meio da Caatinga.
14:10Então, acho que o Vale do Catimbal
14:13mostrava os espetáculos de Nova Jerusalém,
14:17o Carnaval,
14:19o Galo da Madrugada,
14:21a primeira vez que eu mostrei,
14:22tinham 74 pessoas,
14:24ainda com película preto e branco.
14:27Não tivemos a oportunidade de mostrar as cores do Carnaval.
14:30E depois se tornou a grandeza,
14:32porque durante 40 anos,
14:35o Galo da Madrugada foi destaque no Jornal Nacional.
14:38Muito bem, Chico.
14:40A gente vai fazer um breve intervalo.
14:42Você que está assistindo a gente,
14:43não saia daí.
14:44A gente volta já já.
14:54Ponto de Vista está de volta hoje,
14:56entrevistando Francisco José.
14:59Para quem não sabe,
15:00Chico José é o recordista de programas Globo Repórter.
15:04Foram 103 programas.
15:06É até covardia perguntar isso, Chico,
15:08mas depois de mostrar tantos tubarões
15:12nos mergulhos que você fazia,
15:14nas cavernas que você entrou,
15:16as florestas que você mostrou,
15:19dá para dizer, assim,
15:21sei lá,
15:22alguns programas que destacaram mais
15:24que você gostaria de ressaltar?
15:27Claro.
15:28Eu destacaria
15:30os biomas.
15:33Eu fui a todos os biomas.
15:35Foram 17 Globo Repórteres na África,
15:38atravessando a savana,
15:40tudo,
15:40o Pantanal.
15:42Eu fiz uma palestra recentemente
15:45em Mato Grosso,
15:46e recebi o título
15:47de cidadão Mato Grossense.
15:49Eu disse,
15:49mas há tanto tempo
15:50que eu não faço reportagem aqui.
15:52Eu disse, não.
15:52Mas as primeiras reportagens
15:54que você fez
15:55mostrando o Pantanal,
15:56que era desconhecido,
15:58foi que tornaram isso aqui conhecido.
16:01Agora,
16:01a matéria que mais
16:03eu considero que destacou
16:06foi ficar 32 dias
16:10dentro de uma aldeia indígena,
16:12eles ainda primitivos,
16:14convivendo com eles o tempo todo,
16:17sem estrutura nenhuma.
16:19Nós levamos um gerador
16:20para carregar as baterias
16:21e levamos nossas redes
16:23e fizemos uma palhossazinha.
16:26E essa reportagem
16:27com os indígenas
16:29Enauene,
16:30Enauê,
16:31feita com a equipe daqui,
16:32Sancosta,
16:33Delec,
16:34que você conhece bem,
16:35trabalhou tanto tempo com eles,
16:38tudo foi finalista
16:39do Prêmio M,
16:41que é o Oscar
16:41da televisão brasileira.
16:43Então,
16:43aquela matéria
16:44lá do meio
16:46da floresta amazônica
16:47nos levou
16:48para a primeira fila
16:49do Lincoln Center
16:50em Nova Iorque
16:51na entrega
16:52do maior prêmio
16:53da televisão brasileira.
16:55Chico,
16:55a gente sabe
16:56que você,
16:57como um bom sertanejo,
16:58é um destemido,
16:59mas eu queria te perguntar,
17:02desse material todo
17:04que você fez,
17:05que você se deparou
17:06ao longo da carreira,
17:07o que é que assusta mais?
17:10Primeiro,
17:11você já teve medo
17:12de fazer alguma matéria?
17:13Se deparou com medo
17:15também em algumas situações?
17:16Fernando,
17:19todo ser humano
17:20tem medo
17:21e eu não sou diferente.
17:23O que eu faço
17:24é controlar o medo.
17:26Enfrentar, né?
17:27Enfrentar.
17:28Para fazer uma floresta
17:29amazônica
17:30dentro
17:31da Serra da Capivara,
17:34no sul do Piauí,
17:35onde só tem
17:36caatinga
17:37e lá embaixo
17:37tem a floresta amazônica.
17:39Eu falo,
17:39tem que mostrar
17:40essa floresta,
17:41mas como descer
17:42os penhascos
17:43com 70 metros
17:44de altura?
17:45Eu disse,
17:46é só de rapel.
17:47Mas eu nunca fiz rapel.
17:49E rapel
17:50é descer
17:50pela corda,
17:51tudo.
17:52E eu confesso
17:52que eu tive
17:53muito medo
17:54de ficar pendurado
17:55ali 70 metros.
17:56Primeiro,
17:57porque eu caí,
17:57eu não sabia
17:58descer normal
17:59e bati,
18:00fiz tudo errado,
18:01mas conseguimos
18:02mostrar a floresta.
18:04Qual o mais difícil?
18:05Mergulhar com os tubarões
18:06como você
18:07mergulhou
18:08inúmeras vezes
18:09ou ficar
18:10frente a frente
18:11com os gorilas
18:12na África
18:12ou com os dragões
18:14de Komodo?
18:15Os dragões
18:15de Komodo
18:16são os animais
18:18mais agressivos
18:20e eu acho
18:21que mais perigosos
18:22que eu já tive
18:22contato.
18:24Eu mergulhei
18:24com os tubarões
18:26que,
18:27segundo os pesquisadores,
18:28são responsáveis
18:29pelos ataques
18:30aqui no nosso litoral,
18:32que é o tubarão-tigre.
18:33Eu fui em busca
18:34desse tubarão
18:35em água limpa,
18:38nas Bahamas,
18:39e assinam
18:40termos de responsabilidade
18:41pela vida,
18:42vai lá,
18:43mergulha,
18:44eles avisam
18:45que ele vai te atlacar
18:46e você se defende
18:47com a câmera.
18:48Mas eu sentia,
18:50via o tubarão
18:51e ele procurava
18:55mais o peixe
18:55do que a mim.
18:56Nas vezes
18:57que ele veio
18:57para cima de mim,
18:58eu defendei
18:59com a câmera.
19:00Uma delas,
19:01quando ele abre a boca,
19:02era um tubarão grande
19:03de quase 5 metros,
19:04eu filmei
19:05dentro da boca
19:06do bicho.
19:06Mas o dragão
19:08de Komodo
19:08é impressionante,
19:10porque Komodo
19:12é uma ilha
19:13da Indonésia.
19:14Para entrar lá,
19:15precisa autorização
19:16de 3 ministérios.
19:19E nós ficamos
19:195 dias
19:21dentro dessa ilha.
19:23Eu estava com
19:24o repórter,
19:25o autógrafo
19:26Paulo Zero,
19:27e cada um,
19:27além de assinar
19:28o termo de responsabilidade
19:29pela vida,
19:30leva uma vara
19:31com a forquilha
19:32na ponta.
19:33e assim como
19:34os mergulhadores
19:35falaram que o tubarão
19:36ia atacar,
19:37lá os guias
19:39disseram
19:39ele vai te atacar
19:42e você tem
19:43que se defender
19:43com o gancho.
19:45Paulo Zero
19:45não podia
19:46estar com a câmera
19:47e um pau
19:49para se defender.
19:50Então,
19:50eu era
19:50o defensor
19:52de Paulo Zero
19:52e foi preciso
19:55bater muito
19:55em dragão
19:56lá para a gente
19:57ficar esse tempo
19:58todo
19:58e conseguir
19:59fazer esse bicho.
20:00Ele é terrível.
20:02Muito veneno
20:02na boca,
20:03ele baba veneno,
20:05é um lagarto,
20:05é o maior lagarto
20:06do mundo,
20:07tem 3 metros
20:08de extensão,
20:09carnívoro
20:10e é um assassino.
20:13Eles já devoraram
20:14um fotógrafo suíço
20:16lá que teve
20:17a ousadia
20:18de acampar
20:19na ilha,
20:20não podia
20:20ter feito isso.
20:21Então,
20:22só restaram
20:23as máquinas
20:25fotográficas
20:26e os óculos
20:27do fotógrafo.
20:28Chego,
20:28a gente sabe
20:29que em televisão
20:30ninguém trabalha
20:30sozinho,
20:31nenhum repórter
20:32trabalha sozinho.
20:34Nesse seu livro
20:34aqui,
20:3540 anos no ar,
20:36a jornada
20:37de um repórter
20:38pelos cinco continentes,
20:40você fala disso,
20:41você fala que
20:42não conseguiria
20:43ter feito
20:44o que fez
20:44sem os cinegrafistas
20:46com quem você
20:47trabalhou ao longo
20:47de mais de 40 anos
20:49de TV,
20:51sem os pejoteiros
20:53que são
20:53os auxiliares
20:54que acompanham
20:55as equipes
20:56de reportagem,
20:57sem os editores,
20:59sem os produtores
21:00que produzem
21:01cada uma
21:03das reportagens
21:04que você foi fazer.
21:05Esse trabalho
21:06de equipe
21:08é essencial
21:09em televisão.
21:10Você concorda?
21:11É essencial,
21:11concordo plenamente
21:12e eu dediquei
21:14o livro
21:14a eles,
21:16porque muitas vezes
21:17eu estou fazendo
21:18uma matéria
21:19e nas palestras
21:22que eu faço
21:23pelo Brasil afora,
21:24mostro os vídeos,
21:26você é muito corajoso.
21:28E o cinegrafista
21:29que está ali
21:29me filmando?
21:30Se eu estou descendo
21:31no rapel,
21:32ele também
21:32não tem experiência,
21:34mas está em outra corda,
21:35além de descer,
21:37ainda tem que filmar.
21:39E isso é o que
21:40acontece sempre.
21:42E o repórter
21:44cinematográfico
21:45é fundamental.
21:47Eu digo aí
21:48no livro
21:48que ele é
21:50a razão
21:50da televisão existir.
21:52Sem imagens
21:53não haveria televisão.
21:55Agora,
21:55eu tive muitas lições
21:56e uma delas
21:58foi de um motoqueiro.
22:00Eu afundou
22:01o Batomux
22:02no Rio de Janeiro,
22:04a Globo
22:04me chamou
22:05imediatamente
22:06para lá,
22:06eu mergulhei
22:07e à noite
22:08estava no Jornal Nacional
22:09o Batomux.
22:10Só que
22:11quando nós saímos
22:12da Marina da Glória
22:13do barco
22:14com a fita
22:15para levar
22:16para a Globo,
22:17estava o motoqueiro
22:18esperando
22:19e disse
22:20Chico,
22:20tu vai ter que ir comigo
22:21porque senão
22:22não dá tempo.
22:23Eu disse,
22:23vamos embora.
22:24Ele disse,
22:24fecha as pernas.
22:25quando ele passou
22:25no túnel
22:27Rebouças,
22:28foi que eu senti
22:29que se eu tivesse
22:30pela aberta
22:30ele batia
22:31de tanto
22:32que ele
22:32corria
22:33entre os carros.
22:34Ele arriscou
22:35a vida dele
22:35para fazer.
22:36Na hora
22:37que eu entrei
22:37na Globo do Rio
22:38correndo
22:39com a fita
22:40ainda
22:40com roupa
22:40de mergulho,
22:42ele correu
22:42atrás
22:43e foi comigo.
22:44Ele acompanhou
22:44a edição
22:45e depois disse,
22:46Chico,
22:47você vai ver aonde?
22:47Eu disse,
22:48vou lá no núcleo
22:48de reportagens especiais
22:50que eu tenho
22:50a chave da redação
22:52e vou ver de lá.
22:53Vamos comigo.
22:53Aí foi.
22:54Na hora que Cid Moreira,
22:56no último bloco,
22:57que a matéria,
22:58enquanto o Jornal Nacional
23:00estava andando,
23:01estavam editando ainda
23:02a matéria.
23:03Nós chegamos
23:04em cima da hora.
23:06Aí o Cid Moreira
23:06entra com aquele
23:07vozeirão dele
23:08a seguir
23:09exclusivo
23:11o Batomuxi
23:12no fundo
23:13da Baía da Guanabara.
23:15Vocês vão ver
23:15o barco
23:16da morte.
23:17E aí
23:18ele se empolgou
23:19demais.
23:20E quando terminou
23:21a matéria,
23:22que foi longa,
23:23tudo,
23:24ele pulava,
23:25só eu e ele
23:26na redação,
23:27e gritava,
23:28nossa,
23:28a matéria
23:29foi sucesso
23:30e falavam
23:31os palavrões,
23:32tudo.
23:32E ele
23:33era responsável
23:34também pela matéria,
23:36tanto quanto eu
23:36e quanto os outros.
23:38Foi um trabalho
23:38de equipe.
23:39Se não fosse ele,
23:40nós não teríamos
23:41chegado em tempo.
23:42Todo o trabalho
23:43da gente
23:43estaria perdido
23:44porque
23:45mandar,
23:46colocar aquilo
23:47no dia seguinte
23:48não era a mesma coisa
23:50de você denunciar
23:51no dia
23:52quando só falavam
23:53nisso em todas
23:54as emissoras de televisão.
23:56Então,
23:56a importância
23:57da equipe
23:57é fundamental.
23:59Nunca uma emissora
24:00de televisão
24:01ou uma reportagem
24:02é feita sozinha.
24:04Chico,
24:04uma outra reportagem
24:05que você fez
24:06e marcou muito
24:07foi a sua entrada
24:09ao vivo
24:09na Eco 92
24:10do fundo do mar.
24:12Eu acho que
24:13até hoje
24:14é uma matéria
24:15que muita gente lembra
24:16e que dificilmente
24:17se faz.
24:18Eu não me lembro
24:19de outros repórteres
24:20entrando ao vivo
24:21do fundo do mar
24:22mesmo depois
24:23da Eco 92.
24:24Fernando,
24:25até eu tentei fazer
24:26de novo
24:27e não deu certo.
24:28Entrou água.
24:29Eu entrei
24:29na Maria Braga
24:30de baixo.
24:32No início,
24:32eu fiquei falando
24:33com ela.
24:34Tudo,
24:34mas de repente
24:35não tinha mais condições
24:37porque o microfone
24:39estava inundado
24:40aqui
24:41numa máscara de fonia
24:43que é uma máscara grande.
24:44então foi difícil.
24:46Eu fiz o Globo Repórter
24:49da semana
24:50da Eco 92
24:51e eu estava no Rio
24:52e li no jornal
24:54O Globo
24:54que mergulhadores
24:56iam limpar
24:56um navio
24:57nas Ilhas Cagarras
24:59em frente
24:59de Ipanema.
25:00Então eu liguei
25:01para a operadora
25:02de mergulho
25:02e perguntei
25:03que horas
25:03vocês vão fazer isso?
25:05Aí eu disse
25:05nós vamos fazer
25:06a tarde.
25:07Eu disse
25:07olha,
25:07se fizerem à noite
25:09há uma chance
25:10de entrar
25:10no Jornal Nacional
25:11porque
25:12eu tenho um dia
25:15para ir lá
25:15ensaiar
25:16e ver se tem condições.
25:17Aí fiz o desafio
25:19a engenharia
25:20da Globo
25:20no Rio.
25:21Olha aí,
25:22depende de vocês agora.
25:23Falar no fundo do mar
25:24eu tenho a máscara
25:25da operadora
25:27
25:27que fala
25:28e colocar um cabo
25:30tudo
25:30eles foram lá
25:31ensaiando
25:31deu certo.
25:32Aí no dia seguinte
25:33entrou
25:35o
25:35Carlos Nascimento
25:38na hora
25:38do Jornal Nacional
25:39disse agora
25:40vamos falar
25:41com o Chico José
25:41que está no fundo do mar.
25:43Foi estranho isso.
25:44A televisão japonesa
25:46viu lá
25:46e estava ao vivo
25:48foi lá
25:48ver se aquilo
25:50era ao vivo mesmo.
25:51Você foi muito convidado
25:52para dar palestras
25:53é ainda
25:54muito convidado
25:54e muitas vezes
25:55para estudantes
25:56de jornalismo.
25:57Qual o principal
25:58conselho que você dá
26:00para quem quer
26:01entrar ainda
26:02nessa profissão?
26:03Eu valorizo
26:04muito essa profissão
26:06porque eu acho
26:07que eu não me realizaria
26:08sem ser jornalista.
26:11Eu nasci
26:12para ser jornalista
26:13bem ou mal
26:14eu realizei
26:16um sonho
26:16e eu procuro
26:17transmitir
26:18para eles
26:19o que eu fiz
26:21nos 46 anos
26:23no período
26:24de jornal
26:24tudo
26:25que foi
26:26assumir um compromisso
26:27com a verdade
26:27procurar sempre
26:29ser fiel
26:30à informação
26:31poder voltar
26:32aos mesmos lugares
26:33onde já fez
26:34a reportagem
26:35para que as pessoas
26:36reconhecessem
26:37que você fez
26:38tudo corretamente
26:40ou denunciando
26:41ou mostrando
26:42só beleza
26:43tudo
26:43aquele compromisso
26:45que a gente tem
26:46que ter
26:46o jornalista
26:47com a verdade
26:48mesmo agora
26:49com as redes sociais
26:51com a concorrência
26:52que é
26:52com o imediatismo
26:54de entrar ao vivo
26:55o compromisso
26:56com a verdade
26:57é fundamental
26:58e eu incentivo
26:59muita gente diz
27:00a profissão
27:01está decaindo
27:02nada
27:03se você quer fazer
27:05se você
27:06tem que lutar
27:07pela profissão
27:08e
27:09é o que acontece
27:10se você
27:11luta por aquela profissão
27:13se você
27:13tem o jornalismo
27:16nas veias
27:17você vai vencer
27:18e vai contar
27:19histórias verdadeiras
27:21que é o mais importante
27:22é
27:22nessas
27:23nessas palestras
27:24todas
27:24quando eu falo
27:25eu digo
27:26tudo o que eu falo
27:27eu mostro
27:28e tem um vídeo
27:29depois
27:29eu fui para o programa
27:31de Bial
27:32e ele falou isso tudo
27:33tudo o que ele faz
27:34ele mostra
27:34vamos ver
27:35eu faço e provo
27:36eu faço e provo
27:37graças a Deus
27:38tem as imagens
27:39senão eu não poderia
27:40falar em tantas coisas
27:42que nós fizemos
27:43eu andei muito
27:44Fernandinho
27:44você é testemunha disso
27:45você foi meu companheiro
27:47durante muito tempo
27:49eu tenho muito orgulho
27:49mais de 20 anos
27:50mais de 20 anos
27:52na Globo Nordeste
27:52na Globo Pernambuco
27:53e aí andando
27:55o Ártico
27:56Antártica
27:57todos os continentes
27:59mergulhando nos sete mares
28:00foi uma vida
28:01muito longa
28:03Chico
28:03tem mais é que se orgulhar mesmo
28:05a gente agradece
28:06a sua participação
28:07hoje aqui
28:07do ponto de vista
28:08eu é que agradeço
28:09eu até brinquei com você
28:11quanto orgulho
28:12ser entrevistado
28:13por você amigo
28:14o orgulho é todo meu
28:15e você que está aí
28:17em casa
28:17assistindo a gente
28:18muito obrigado
28:19pela companhia
28:20e audiência
28:21a gente volta
28:22na semana que vem
28:23e aí
28:25e aí
28:26e aí
28:27e aí
28:28e aí
28:30Legenda Adriana Zanotto