Em resposta ao tarifaço de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, sem vetos, a Lei da Reciprocidade, que autoriza o Brasil a adotar contramedidas comerciais contra países que dificultem a entrada de produtos brasileiros em seus mercados. A economista e professora da FGV, Carla Beni, debate como a Lei de Reciprocidade deverá afetar a economia do Brasil.
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NotíciasTranscrição
00:00O tarifácio de Donald Trump deve afetar a economia dos brasileiros.
00:04O presidente dos Estados Unidos passou por 90 dias às tarifas recíprocas.
00:09Recebemos Carla Beni, economista e professora da Fundação Getúlio Vargas.
00:14Muito bom dia, seja bem-vinda aqui ao Jornal da Manhã.
00:16Já começo perguntando como tudo isso vai refletir então na vida dos brasileiros.
00:22Bom dia, Elisângela. Bom dia a todos.
00:24Olha, exatamente nessa situação que a gente está, nós estamos numa situação de incerteza.
00:32Então como ele altera muito as tarifas, ele vai, volta, isso dá uma imprevisibilidade para as empresas.
00:41No entanto que nós já estamos vendo alguns recusos de investimentos.
00:45Então, Elisângela, esse é o primeiro problema e diria que o grande,
00:50porque ele é mais profundo do que a tarifa de 20, 30 ou 40%, por exemplo.
01:00David?
01:02Bom, em relação também ao tarifácio, é claro que muitas medidas estão sendo colocadas
01:09e vários analistas também estão fazendo diversas projeções em relação a isso.
01:15Mas eu gostaria de saber de que forma que a economia brasileira pode ser atingida,
01:20já que o presidente Lula, na última sexta-feira, também acabou promovendo
01:24uma reciprocidade em relação ao tarifácio do Donald Trump.
01:29Quando a gente pensa numa reciprocidade,
01:34a gente pode colocar uns percentuais em cima de alguns itens, por exemplo,
01:39que a gente acaba exportando.
01:41Mas essa semana, por exemplo, já foi anunciada pela mídia, inclusive,
01:48que a China fez uma compra extra de 2 milhões de toneladas de soja do Brasil.
01:56Fora do, digamos assim, do planejamento.
01:59Você tinha um planejamento para 20 cargas e ela comprou 40 a mais.
02:05Saíram 60 cargas de soja essa semana.
02:08Então, você tem um volume de venda extra que a gente não estava esperando.
02:15Então, esses movimentos esporádicos, eles vão começar a acontecer justamente por causa da instabilidade.
02:23Agora, quando a gente decidir os percentuais que vamos colocar nas contratarifas, digamos assim,
02:32aqui, você tem algumas possibilidades, David.
02:36O importador americano é ele que vai decidir.
02:40Se ele vai comprar o produto com 10% a mais, por exemplo,
02:45e fazer o repasse para o consumidor final americano.
02:49Então, isso tem um tempo para a gente poder conseguir ver dados
02:54e ver o que é que vai acontecer.
02:56Pode ser que os Estados Unidos continuem comprando o produto nosso,
03:01com 10% a mais, e façam esse repasse,
03:04e isso daí não tenha grandes mudanças,
03:06ou pode ser que não,
03:07que a gente comece a ampliar também outros mercados.
03:12A gente não pode esquecer que,
03:14de onde os Estados Unidos se afastam, a China se aproxima.
03:18Muito bom dia, Carla.
03:20É uma honra poder te ouvir.
03:21E eu quero te perguntar, no país do tarifácio, que é o Brasil,
03:26a gente está criticando muito o que o Trump está fazendo,
03:29e eu concordo, porque eu sou contra qualquer aumento de imposto.
03:32Mas se os próprios governantes, o presidente da República,
03:35está dizendo que o tarifácio do Trump vai ser ruim,
03:39e nós temos um ministro da Fazenda que é apelidado,
03:42maldosamente ou não por muitos, de taxade,
03:45será que tem alguma chance de nós realmente discutirmos tarifácio,
03:49mais internamente e reduzirmos os nossos impostos?
03:54São assuntos aqui diferentes, por quê?
03:58Os Estados Unidos fez medidas arbitrárias.
04:02Então, ele resolveu subir os impostos do mundo todo
04:07de uma forma arbitrária,
04:09e inclusive a gente não pode esquecer
04:11que o governo Biden fez subidas de tarifa,
04:15por exemplo, em relação à China, enormes.
04:18Carro elétrico chinês no governo Biden
04:20subiu de 25 para 100 de um dia para o outro,
04:24só que sem esse estardalhaço todo, digamos,
04:28midiático que o Trump faz.
04:30Então, quando o Brasil revida, entre aspas,
04:33que isso também precisa ver,
04:35se interessa para a gente,
04:37a pauta de importação e de exportação nossa
04:39para os Estados Unidos é muito diferente.
04:42Então, uma coisa é a fala diplomática.
04:46O Brasil é soberano
04:48e ele precisa ter uma resposta diplomática.
04:51O que vai acontecer na mesa de negociação,
04:55entre a diplomacia,
04:57entre os ministérios, digamos assim,
05:00do Brasil com o exterior,
05:02aí é outra coisa.
05:03Agora, respondendo a tua outra parte,
05:07a questão nossa tributária,
05:09o Senado, por exemplo,
05:11ainda não definiu o IVA.
05:13Então, esse daí é um outro ponto importante.
05:16Nós temos uma reforma aprovada,
05:19mas a gente precisa decidir
05:20qual vai ser a alíquota
05:22do imposto de valor agregado
05:24que a gente vai ter.
05:25Em tese, era para ser os 26,5.
05:27Quando todo mundo quis colocar as carnes,
05:30lembram disso?
05:31Colocar todas as carnes na cesta básica?
05:35Provavelmente, isso vai ficar próximo de 27,5.
05:38Então, esse daí é outro ponto.
05:41E outra questão,
05:42só para fechar a tua pergunta,
05:44que amei a sua pergunta,
05:46ela tem a ver com a reforma da renda.
05:48E essa ainda nem começou.
05:51E como o Brasil tem uma tributação desigual,
05:55tributa muito bens e serviços
05:57e pouco lucro, juros,
05:59dividendo, renda e patrimônio,
06:01a gente precisa ver
06:02que tipo de vespeiro
06:04a gente vai querer colocar a mão aí.
06:07Professor Lacarla, bom dia.
06:10Num dia, o Trump faz uma tarifa de 25%,
06:13no outro dia ele volta atrás,
06:14sem que sequer os seus assessores
06:16fossem consultados.
06:18Tarifa uma ilha que só tem pinguins.
06:20Tarifa o Brasil,
06:21em que o saldo da balança comercial
06:23é favorável aos Estados Unidos.
06:26Afinal, ele é realmente um gênio
06:28ou a sua política é de improviso
06:30e absolutamente equivocada?
06:32E qual é efetivamente o propósito
06:33dessas políticas de Donald Trump?
06:36Bom, se ele for um gênio,
06:39há uma possibilidade dessa,
06:42é um gênio em causa própria.
06:44Porque ele conseguiu fazer
06:46com que o americano médio
06:48apoiasse ele e acreditasse
06:52que você pode tarifar país.
06:55Então, quando você conversa
06:56com o americano médio
06:57na rua, nos Estados Unidos,
06:59ele fala,
07:00o Trump está tarifando a China.
07:03Ele não tem a mínima noção
07:05de que é ele que paga.
07:06Ele acredita que você pode
07:09tributar país,
07:11que é a China,
07:12num sentido abstrato,
07:14que vai pagar esse imposto.
07:16E a empresa de mídia
07:18dos Estados Unidos
07:19teve um lucro de 21%
07:23em dois dias,
07:24porque ele deu anúncio de compra
07:26e depois ele mudou as tarifas.
07:29Ou seja, ele tornou bilionários
07:31mais bilionários,
07:33fazendo com que as 500 maiores
07:36empresas americanas
07:37perdessem 8 trilhões de dólares
07:41em dias.
07:42Então, se a genialidade dele
07:45for em causa própria,
07:46aí há essa possibilidade.
07:49Do outro lado,
07:50ele tem assessores
07:52que têm perfis tarifários,
07:56protecionistas,
07:57como se a gente estivesse
07:58voltando aí
08:00no final do século XIX
08:02e começo do século XX.
08:04Ele tem esse tipo de assessoria
08:06e o secretário do Tesouro Americano
08:09é um especialista em fundo de rede.
08:13Então, eu acho que nós teremos
08:16muita turbulência daqui para frente.
08:19Conversamos então com Carla Benio,
08:21economista e professora
08:22da Fundação Getúlio Vargas.
08:24Professora, muito obrigada
08:25pelas informações e explicações também.
08:28Sempre bom tê-la aqui.
08:29Muito obrigada.
08:29Um ótimo dia.
08:30Obrigada, ótimo domingo a todos.
08:33Até a próxima.