O diretor da Câmara do Comércio Argentino Brasileira de São Paulo, Roberto Luis Troster, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Jovem Pan. Ele analisou a liberação de um empréstimo no valor de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional para a Argentina, com desembolso imediato de US$ 12 bilhões. O Conselho Executivo do FMI liberou o acordo com duração de 48 meses. Maria de Carli participa.
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NotíciasTranscrição
00:00Na Argentina, a semana foi marcada por acordos do governo de Javier Milley com o FMI e também com o Banco Mundial.
00:07Um dos grandes desafios é aumentar as reservas do país para ajudar no combate à inflação.
00:12Temos mais um convidado aqui no Jornal Jovem Pan.
00:14Nosso entrevistado é o economista Roberto Troster, diretor da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo.
00:21Tudo bem, professor? Muito bom te rever aqui sempre pelas imagens da Jovem Pan. Como vai? Tudo bem?
00:26Tudo bem, Tiago? Muito obrigado pelo convite. Sempre um prazer falar com vocês.
00:31Nós é que agradecemos. Bom, professor, o senhor atua no Brasil há décadas, mas o senhor é nascido na Argentina, é sempre bom ressaltar e tem, obviamente, uma ligação com o país.
00:41E inúmeras vezes aqui na Jovem Pan a gente já falou da crise argentina.
00:45A crise argentina, professor, é uma crise talvez eterna, né?
00:49Mas será que essas duas negociações que o governo Milley faz agora com o FMI e com o próprio Banco Mundial,
00:58será que é possível ver uma luz no fim do túnel para o combate à inflação do país, para o aumento das reservas?
01:04São pontos que o senhor sempre destacou aqui na Jovem Pan, professor?
01:09Bom, primeiro eu sou argentino e sou brasileiro.
01:12São as duas coisas, dá para ser duas coisas ao mesmo tempo, né?
01:16E a segunda coisa, eu não sei crise, a Argentina vai crescer mais de 5% este ano, 4,7% o ano que vem,
01:26a miséria caiu, a violência caiu, a inflação caiu e as projeções de crescimento estão surpreendendo dia após dia.
01:36Então, eu diria que nós já estamos saindo do túnel, não sei se a gente vai entrar em outro túnel lá para frente,
01:44mas por enquanto, até agora, o Milley está dando show.
01:51O acordo é muito bom, quer dizer, a Argentina, os argentinos de maneira geral, pensam em dólar,
01:57a moeda de referência, de unidade de conta, de reserva de valor é o dólar.
02:02E como essa demanda por dólar é tão grande, o que acontece?
02:07O dólar estava exprimido, tinha uma série de restrições, você só podia comprar 200 dólares por mês,
02:13você tinha uma série de coisas.
02:15Agora eles estão acabando com isso, a partir de segunda-feira, o dólar flutua.
02:20O que é muito bom.
02:21Eles puseram uma banda entre mil pesos e mil e quatrocentos pesos,
02:26e aí vai oscilar dentro dessa banda.
02:29Se chegar no teto, o governo começa a vender dólar, se chegar no piso, começa a comprar.
02:36Informalmente, as projeções dos analistas estão falando que o dólar vai operar mil e trezentos pesos,
02:43quer dizer, bem abaixo do teto.
02:45Isso a gente só vai saber na segunda-feira.
02:47Mas isso abre a possibilidade para muitos investimentos,
02:51abre a possibilidade para a Argentina se inserir melhor no mercado de capitais mundiais.
02:59Eu acho que o Bilet falou muito bem que a fase 3, a fase 1 foi acabar com déficit,
03:05a fase 2 foi acabar com inflação, a inflação estava a 25% ao mês,
03:11agora está a 3%, quer dizer, tem chão ainda para baixar.
03:14Mas está a trajetória descendente.
03:18Violência diminuiu, miséria diminuiu, tem muito a ser feito, mas tem muito que já foi feito.
03:26Roberto Trostner, vou chamar a nossa comentarista, Maria de Cali,
03:28para fazer a próxima pergunta, participar dessa entrevista. Maria.
03:31Olá, professor. Boa noite.
03:34Interessante o que o senhor menciona, como a Argentina está se reconstruindo
03:40e, consequentemente, aumentando a confiança desses potenciais investidores,
03:45dessas instituições financeiras internacionais do Congresso de Bretton Woods,
03:49o FMI, o Banco Mundial.
03:51Então, eu tenho duas perguntas intercaladas que se juntam.
03:55Será que o Millet, então, encontrou a fórmula mágica
03:58para reverter esse cenário que era muito complicado das últimas décadas?
04:03E como isso impacta nas eleições argentinas neste ano de 2025?
04:08A gente sabe que vão haver eleições.
04:10E, justamente, se perguntava qual a consequência dessas medidas econômicas
04:15neste, então, evento político.
04:19Bom, então, três coisas.
04:21A primeira, boa noite, vou falar com você, Maria.
04:23A segunda, em economia, a fórmula mágica muda todo dia.
04:31Quer dizer, o que funciona bem um dia não funciona bem no outro dia.
04:35Até agora, ele está mudando a fórmula de acordo com a realidade.
04:39Então, até agora, está indo bem.
04:41Tem muitos desafios.
04:42Ninguém sabe se o dólar vai disparar.
04:47Ele teve uma greve geral na quarta-feira.
04:50Mais fraca que a greve anterior, mas, assim, ele não é unanimidade na Argentina.
04:56E mais do que os investidores internacionais, o mais importante são os investidores nacionais.
05:02Quer dizer, os argentinos mesmo confiarem mais na Argentina.
05:07Ele parece que está conseguindo isso.
05:09E aí vai a tua segunda pergunta.
05:12Obviamente, isso vai influenciar as eleições de outubro, as eleições municipais.
05:17E tanto que hoje, junto com o acordo, já está saindo propaganda do Millet apoiando o candidato para a prefeitura de Buenos Aires.
05:27Dizendo o que vai fazer na cidade de Buenos Aires, o que está sendo feito no resto do país.
05:32Agora, economia é uma coisa que você tem...
05:34É como saúde da gente, né?
05:36É uma coisa que todo dia você tem que começar do zero, ver o que é melhor para fazer.
05:43Desculpa.
05:43E, professor, quer fazer mais uma, Maria?
05:47Eu só queria dizer que eu gostei muito da metáfora da economia e saúde da gente.
05:51Eu vou adotá-la, se o senhor me permitir, quando eu fizer os comentários.
05:55É só isso, esse comentário.
05:57Professor, quando a gente fala sobre o FMI, a gente lembra muito do Brasil, dos anos 80, 90.
06:03E havia uma campanha muito grande, né?
06:05Até o próprio PT, quando ainda era oposição, cobrava o governo Fernando Henrique Cardoso para acabar com a negociação com o FMI.
06:16É ainda um organismo muito importante, no caso, para um país como a Argentina, que precisa desse apoio, professor?
06:22É, o FMI deveria funcionar como um banco para crises, para economias em momentos difíceis.
06:32E quando ele vinha aqui no Brasil e falou, ó, você gasta mais do que você arrecada, você não vai pagar a tua dívida.
06:39Aí todo mundo, falando de saúde, Maria, você vê que estou saindo de uma gripe, né?
06:44Eu devia ter cuidado melhor da minha saúde.
06:47Mas, em todo caso, o que que o grande crítico, o FMI, ele falou, não, você não pode gastar mais do que você arrecada.
06:54E se você quer pagar a dívida, você tem que arrecadar mais do que você gasta e sobrar um pouquinho para pagar.
07:00Então, você ainda tem essa visão do mundo como um todo com o FMI.
07:06Mas é bom, nesse momento está dando uma bruta ajuda para a Argentina.
07:09Professor, uma última questão que eu queria fazer para o senhor é sobre o tarifácio, né, de Donald Trump.
07:16Porque há muita incerteza, a semana foi muito turbulenta nas bolsas.
07:22Um dia um recorde para cima, outro dia um recorde para baixo.
07:26O próprio presidente recuando de muitas decisões que ele tomou.
07:29Daqui a pouco a gente vai falar mais aqui.
07:31Houve também, hoje, um outro recuo.
07:33Eu pergunto, o senhor como um economista de muitos anos.
07:37A forma como o governo americano está tratando isso, o senhor acha que é algo fora de esquadro?
07:43Ou algo que pode ajudar, no caso do Brasil, a outras negociações com novos mercados?
07:50É possível fazer alguma projeção em relação a tudo isso que a gente viu nessa semana, professor?
07:55Eu vou começar de trás.
07:57A última parte da...
07:58São três perguntas que você fez.
07:59Por favor.
08:00Tem uma coisa chamada armadilha de Tucídides.
08:03Tucídides foi um historiador que acompanhou a guerra do Peloponeso.
08:09Atenas, Esparta contra Atenas.
08:11Quando tem uma potência emergente, a potência dominante tende a acabar em conflito.
08:18E ao longo da história, isso foi usado, mostrando que sempre que tem uma potência dominante,
08:24como que às vezes acaba em guerra.
08:27A nossa potência emergente agora é a China.
08:29E a China está nadando de braçada em todas as idas e vindas do Trump.
08:37Hoje, em 190 países, 150 dos 190 países, tem mais comércio com a China que com os Estados Unidos.
08:46A China está realmente ocupando espaços.
08:50A maneira que o Trump...
08:51A nossa primeira sorte é que é uma guerra comercial e não é uma guerra militar.
08:55A segunda coisa, a maneira como essas idas e vindas do Trump estão isolando cada vez mais os Estados Unidos.
09:04Em vez de definir, planejar e fazer, foi fazendo, voltando, desnecessariamente agredindo vizinhos, parceiros.
09:14Então, eu acho que você vai ter um Estado dos Unidos mais isolado e um resto do mundo mais integrado.
09:23Para o Brasil, especificamente, não é um quadro ruim.
09:26Nós vamos ter alguns problemas com alguns setores, mas na média, quer dizer, nós vamos exportar mais para a China.
09:32Já estão aumentando as exportações de soja para a China, vão aumentar as de carne.
09:36Nós estamos abrindo mais oportunidades para nós.
09:43A questão é se nós vamos saber aproveitar bem essas oportunidades.
09:49E é a hora do mundo, como um todo, se organizar num novo multilateralismo.
09:54Os Estados Unidos vai ser um participante, mas, aparentemente, não estão perdendo importância nos próximos anos.
10:01Professor Trosser, para a gente fechar, a Maria de Cali faz a última questão.
10:05Maria.
10:06Professor, é a minha última pergunta.
10:07Ela falou que não ia fazer mais.
10:08Agora eu vou fazer.
10:10Eu vou fazer a última.
10:12Eu vou fazer as honras da última.
10:13Não, pode fazer mais vídeo, se quiser.
10:15Não, minha pergunta é...
10:17Desculpe.
10:18Minha pergunta é diante desse novo cenário global que se apresenta, né?
10:21Com essa eleição do Trump e todo esse tarifácio.
10:24Como é que a Argentina pode ter protagonismo referente ao Mercosul, digamos assim?
10:31E, principalmente, o senhor colocou bem essa questão da exportação bovina diante desse acordo Mercosul e União Europeia, mais especificamente.
10:40O senhor vê com bons olhos.
10:42Como é que a Argentina pode também ter essa liderança regional?
10:47Eu acho que é um bloco, né?
10:51Quer dizer, a gente devia mais do que falar em liderança, deveria falar em trabalhar como um bloco.
10:57Eu acho, especificamente Mercosul, a gente, em vez de ver o Mercosul como um mercado de 300, um pouquinho menos que 300 milhões de habitantes,
11:08é como uma base de exportação para 8 bilhões de habitantes no planeta Terra.
11:14Então, eu acho que é uma oportunidade.
11:15Você falou da carne, tentar Argentina e Brasil exportarem a carne juntos, para vinho, para soja.
11:23Soja, por exemplo, a maior produção de soja do mundo está entre Argentina e Brasil.
11:29Por isso, a gente poderia pensar em fazer uma bolsa de cereais aqui.
11:35Os cereais são negociados em Chicago.
11:37Você tem muito espaço para crescer.
11:39Agora, a palavra-chave, você perguntou, Milley.
11:42Se Milley vai ver essa oportunidade ou não, é só ele que sabe.
11:46Tomara que sim.
11:48Roberto Trost, economista, como sempre, muito obrigado pela gentileza para atender a Jovem Pan.
11:53E a gente volta sempre a se falar.
11:54Um abraço, professor.
11:55Bom fim de semana.
11:56Obrigado, obrigado pelo convite.
11:59Boa noite, Maria.
12:00Boa noite, Thiago.
12:01E boa noite a todo mundo que está assistindo.