O Sequestro do menino Alan Kardec Batista Vieira (Cariacica - 1975)

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O menino de rostinho rosado, pele fina e cabelos macios, foi raptado em Cariacica, no Espírito Santo, na tarde do dia 3 de janeiro de 1970.

Alan Kardec guarda muito pouco. Descoberto em Iguaraci, um lugarejo do interior pernambucano a 370 quilômetros do Recife, ele voltou para casa, de onde saiu com quase oito anos de idade, como um desconhecido vendedor de pastéis.

Voltou famoso, carregado nos braços, saudado pela multidão que o aguardava em Vitória. Do tabuleiro de pastéis, pouco se recorda.

A mancha roxa no ombro direito é a marca mais recente, deixada pela lata de água que era obrigado a carregar todos os dias no sertão nordestino. O rosto empalideceu.

Os cabelos perderam o brilho. Pouco desenvolvido para um adolescente de 13 anos e com braços e pernas finos em um corpo dilatado pela verminose, Alan Kardec personifica, no sotaque e na postura, o menino pobre e sertanejo que foi durante os quatro anos e oito meses que viveu em Iguaraci.

O período correspondente ao ano que perambulou em companhia da mulher que o teria raptado ainda não foi bem explicado. O garoto se refere ao episódio resumindo-o numa história fantástica:

"A mulher me levou num jipe preto que saiu andando, andando, por lugares que não sei. O dinheiro acabou e a gasolina faltou e ela pifou. Começou a se encher de cachaça, bebeu, bebeu até que estourou. O homem que dirigia o jipe foi embora. Os urubus vieram para comer a mulher. Chovia, sentei numa pedra e fiquei esperando alguém passar. Aí termina essa história."

SEGUE...