Entrevista a Paulo Otero: "Salazar estava prisioneiro dele próprio"
2010-07-26
Um homem “frágil”, “idoso” e “doente” mas que continuava a ser a personificação do
Estado Novo. Este é um dos retratos de António de Oliveira Salazar meses antes de
morrer. O fim da vida do estadista é descrito no livro “Os últimos meses de Salazar”, de
Paulo Otero, publicado quando passam 40 anos sobre a sua morte.
Salazar foi “prisioneiro” do regime nos últimos meses de vida
“O livro retrata o período do acidente até à morte de Salazar, enquanto homem e expolítico”,
explica ao SAPO o autor da obra, editada no ano em que se assinalam 40 anos
da morte do estadista de Santa Comba Dão, que faleceu a 27 de Julho de 1970.
Desde a “célebre” queda da cadeira em 1968, sobre a qual existem duas versões
possíveis, à cirurgia ao cérebro, até à agonia final em São Bento, o livro mostra um
período “pouco conhecido” da vida do ditador.
“Salazar estava prisioneiro dele próprio”, diz
Paulo Otero. “Uma pessoa idosa e frágil, que não
manda mas é mandada e que não instrumentaliza
mas é instrumentalizada”, completa o autor, que
recorreu a diversas fontes para preparar esta
investigação bibliográfica.
A instrumentalização do político começa quando
Salazar é hospitalizado em Setembro de 1968. A
idade avançada do ditador já tinha levantado a
questão de um sucessor mas Salazar “nunca
tomou a iniciativa de apresentar demissão”,
lembra Paulo Otero.
Marcello Caetano é nomeado novo Chefe de
Governo por Américo Tomaz depois de Salazar
ter sofrido um acidente vascular cerebral, e de ser
internado na Casa de Saúde da Cruz Vermelha
em Lisboa, com pouca esperança de sobreviver e
de retomar o poder.
Salazar vive num “mundo de ilusão”
O político vai passar os últimos meses de vida julgando que ainda era Chefe de
Governo, vítima de um “jogo” de interesses políticos, do qual “o presidente da
República foi cúmplice”, refere o autor do livro.
Através de uma selecção das notícias que eram lidas a Salazar, do seu regresso a São
Bento depois de sair do hospital, das reuniões que tinha com ministros e com Américo
Tomaz, foi criado um “mundo de ilusão”, “uma aparência formal de que Salazar ainda
tinha o poder”, conta Paulo Otero.
Além dos políticos do Estado Novo, também as pessoas mais íntimas de Salazar, em
especial a governanta Maria de Jesus, tiveram um “papel central na montagem deste
cenário irreal”. Paulo Otero acredita que o político “morreu com a convicção” de que
ainda era Presidente do Conselho.
Marcello Caetano, recém-chegado ao Governo, esforçou-se para a construção de um
retrato público de Salazar “doente e inválido”, para tal contribuiu uma emissão
televisiva de um filme “manipulado” que mostrava um homem “velho e caquético”.
O “retrato real de Salazar” aponta para um homem semi-lúcido, que tinha consciência
das suas funções, embora muito debilitado fisicamente: “paralisado de todo o lado
esquerdo e “parcialmente cego”.
Homem para além do político
Paulo Otero sublinha, contudo-A VIDA
2010-07-26
Um homem “frágil”, “idoso” e “doente” mas que continuava a ser a personificação do
Estado Novo. Este é um dos retratos de António de Oliveira Salazar meses antes de
morrer. O fim da vida do estadista é descrito no livro “Os últimos meses de Salazar”, de
Paulo Otero, publicado quando passam 40 anos sobre a sua morte.
Salazar foi “prisioneiro” do regime nos últimos meses de vida
“O livro retrata o período do acidente até à morte de Salazar, enquanto homem e expolítico”,
explica ao SAPO o autor da obra, editada no ano em que se assinalam 40 anos
da morte do estadista de Santa Comba Dão, que faleceu a 27 de Julho de 1970.
Desde a “célebre” queda da cadeira em 1968, sobre a qual existem duas versões
possíveis, à cirurgia ao cérebro, até à agonia final em São Bento, o livro mostra um
período “pouco conhecido” da vida do ditador.
“Salazar estava prisioneiro dele próprio”, diz
Paulo Otero. “Uma pessoa idosa e frágil, que não
manda mas é mandada e que não instrumentaliza
mas é instrumentalizada”, completa o autor, que
recorreu a diversas fontes para preparar esta
investigação bibliográfica.
A instrumentalização do político começa quando
Salazar é hospitalizado em Setembro de 1968. A
idade avançada do ditador já tinha levantado a
questão de um sucessor mas Salazar “nunca
tomou a iniciativa de apresentar demissão”,
lembra Paulo Otero.
Marcello Caetano é nomeado novo Chefe de
Governo por Américo Tomaz depois de Salazar
ter sofrido um acidente vascular cerebral, e de ser
internado na Casa de Saúde da Cruz Vermelha
em Lisboa, com pouca esperança de sobreviver e
de retomar o poder.
Salazar vive num “mundo de ilusão”
O político vai passar os últimos meses de vida julgando que ainda era Chefe de
Governo, vítima de um “jogo” de interesses políticos, do qual “o presidente da
República foi cúmplice”, refere o autor do livro.
Através de uma selecção das notícias que eram lidas a Salazar, do seu regresso a São
Bento depois de sair do hospital, das reuniões que tinha com ministros e com Américo
Tomaz, foi criado um “mundo de ilusão”, “uma aparência formal de que Salazar ainda
tinha o poder”, conta Paulo Otero.
Além dos políticos do Estado Novo, também as pessoas mais íntimas de Salazar, em
especial a governanta Maria de Jesus, tiveram um “papel central na montagem deste
cenário irreal”. Paulo Otero acredita que o político “morreu com a convicção” de que
ainda era Presidente do Conselho.
Marcello Caetano, recém-chegado ao Governo, esforçou-se para a construção de um
retrato público de Salazar “doente e inválido”, para tal contribuiu uma emissão
televisiva de um filme “manipulado” que mostrava um homem “velho e caquético”.
O “retrato real de Salazar” aponta para um homem semi-lúcido, que tinha consciência
das suas funções, embora muito debilitado fisicamente: “paralisado de todo o lado
esquerdo e “parcialmente cego”.
Homem para além do político
Paulo Otero sublinha, contudo-A VIDA
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