AUGUSTO DE CAMPOS, A VERSATILIDADE DE UM DOS MAIORES POETAS DO BRASIL

  • há 6 anos
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O Brasil não tem Oscar. O Brasil não tem Nobel. A gente se queixa disso, mas aí quando vai um brasileiro e ganha um prêmio internacional importante, a gente ignora. No final do ano passado, um poeta brasileiro ganhou um dos principais prêmios internacionais de poesia. O Prêmio Jannus Pannonius da Hungria. Esse brasileiro se chama Augusto de Campos.

[Transcrição]

O Brasil não tem Oscar. O Brasil não tem Nobel. A gente se queixa disso, mas aí quando vai um brasileiro e ganha um prêmio internacional importante, a gente ignora. No final do ano passado, um poeta brasileiro ganhou um dos principais prêmios internacionais de poesia. O Prêmio Jannus Pannonius da Hungria. Esse brasileiro se chama Augusto de Campos. Para o qual eu torço muito no Nobel, por sinal. Se é que torcida no Nobel vale alguma coisa.

O Augusto de Campos é de uma produtividade impressionante. E recentemente, nos últimos anos, têm saído vários livros dele, em várias áreas, mostrando a versatilidade desse intelectual.

Por exemplo, Música de Invenção 2, uma série de ensaios do Augusto sobre música. O Augusto sempre se interessou muito por música, eu gosto muito da expressão que ele usa no título desse livro: Música de Invenção.

As pessoas acham que a gente deve tirar a fronteira entre o popular e erudito, coisa que o Augusto faz. Mas ele propõe uma outra, então, vamos buscar a música de invenção, a música de inovação, os criadores que se interessam em inovar dentro da sua área musical. Aí se é popular ou erudito importa menos do que essa radicalidade na ação.

Augusto também andou lançando um livro de poesia: Outro. É com toda aquela pegada radical que tanto o caracteriza, inclusive, com apelo gráfico.

Acho que vou ler uma poesia aqui do Augusto, mas é uma experiência incompleta você não ter acesso ao texto, a escolha de título, a diagramação, a escolha de tipos, a disposição das letras na palavra constituem também parte do projeto poético de Augusto de Campos.

E, ainda no final do ano passado, foi lançado um dos livros que para mim é o mais importante, um livro que formou toda uma geração de russistas, que são os poemas de Maiakovski, que o Augusto traduziu junto com o seu irmão Haroldo de Campos e com o professor Boris Schnaiderman.

Isso não foi só um relançamento, não foi só que eles pegaram aquela edição antiga, que todos nós, molecada de boina na cabeça metida a besta andava pelo Bixiga declamando, mas acrescentaram novas traduções do Augusto a poemas do Maiakovski.

Gostaria então de fechar lendo um trechinho desse Maiakovski por Augusto de Campos e mostrar como é esse projeto poético de traduzir. Traduzir poesia é sempre mais complicado do que traduzir prosa. Eu nunca tive coragem para isso, porque não basta ser uma tradução semântica. A tradução tem que, de alguma maneira, recriar o ritmo da poesia original.

Se o sol se cansa

e a noite lenta

quer ir pra cama,

marmota sonolenta,

eu, de repente,

inflamo a minha flama

e o dia fulge novamente.

Brilhar pra sempre,

brilhar como um farol,

brilhar com brilho eterno,

gente é pra brilhar,

que tudo o mais vá pro inferno,

este é o meu slogan

e o do sol.

Esse poema, A Extraordinária Aventura Vivida por Vladimir Maiakovski no verão na Datcha.

Augusto de Campos aí, como você percebe, colocou referencias a música popular brasileira e conseguiu citar Caetano Veloso e Roberto Carlos e ainda assim ser muito fiel ao espírito de Maiakovski.

Todo esse espírito perpassa também a obra de Augusto de Campos como poeta. E da poesia dele, do Outro, eu escolhi o poema Maiakovski brinde, que justamente dialoga com esse poeta que tanto participou da vida do Augusto.

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